DURANTE CATÁSTROFE NO RS

Achamos Sua Criança: Plataforma quer encontrar o lar de crianças que estão sozinhas em abrigos

Plataforma tem objetivo de promover o encontro de crianças e adolescentes perdidos na enchente com seus responsáveis legais; saiba mais sobre projeto criado por mulheres da região

Publicado em: 21/05/2024 16:19
Última atualização: 21/05/2024 21:32

Se perder a casa onde mora, os brinquedos e tudo o que conhecia já é um choque, enfrentar isso sem o amparo daqueles que ama é desesperador. Essa é a realidade de muitas crianças e adolescentes encontrados pelas ruas ou que apareceram sem os pais ou responsáveis em abrigos desde o fim de abril, quando a chuva excessiva causou enchentes, deslizamentos, mortes e a separação de famílias. 


Achamos Sua Criança: Plataforma quer encontrar o lar de crianças que estão sozinhas em abrigos Foto: Pixabay

A vontade de encontrar o lar de crianças e adolescentes que se encontram em situações como essa foi tão grande que a psicóloga Daniela Mombach, a designer de experiência e analista de dados Yasmin Seady e a diretora criativa e fundadora da agência Siriê, Júlia Medeiros, criaram a plataforma Achamos Sua Criança.

Todas são da região. Daniela e Yasmin são de Novo Hamburgo, mas decidiram se mudar para a capital gaúcha. Júlia, de Nova Hartz, foi um pouco mais longe, para Florianópolis, capital catarinense, mas abraçou o projeto mesmo fora do Estado.

A ideia para o projeto surgiu a partir do relato de um amigo de Daniela que, durante a cheia histórica do Guaíba, se deparou com um menino perdido dos pais. "Aquilo me abalou muito. Por ser da psico, eu sei o impacto que isso tem, que isso vai ter para as crianças que estão sendo encontradas sozinhas."

Daniela salienta ainda que, de maneira geral, é necessário ter cuidado nos abrigos, quando famílias com crianças dividem espaço com outras pessoas desconhecidas. "Crianças, em geral, não deveriam ficar em abrigos comuns, é muito perigoso. Os pais não conseguem ter controle e estão dividindo várias intimidades com pessoas diferentes, [em espaços como] banheiro, cama", exemplifica.

Desde que o início da catástrofe no RS, além de trazer as dores da população, a reportagem já divulgou fatos que evidenciam esse perigo, como foi o caso de uma adolescente de 14 anos estuprada por um homem de 46 em um abrigo em São Leopoldo.

Após tomar conhecimento de que menores de idade chegavam desacompanhadas em locais de acolhimento, Daniela e Júlia decidiram criar primeiramente uma conta no Instagram (@achamossuacriança) para divulgar esses casos.

No entanto, quando Yasmin entrou no projeto, trouxe um time de tecnologia, o que proporcionou a criação da plataforma. "Não dava para colocar um 'classificado' de crianças no Instagram, porque a ideia é que essa criança chegue apenas para os pais ou para o Conselho Tutelar", diz. Ao todo, 10 pessoas estão envolvidas com o projeto.

Necessidade de cadastro único e centralizado

Atualmente, o governo do Estado possui um monitoramento de abrigos que soma 72,5 mil pessoas em alojamentos, de acordo com dados desta terça-feira (21). No entanto, não estão disponíveis informações sobre crianças desacompanhadas. 

Nesta terça-feira (21) ocorreu uma reunião entre a Coordenadoria da Infância e Juventude (CIJRS) do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS), a Secretaria de Desenvolvimento Social do Estado e outras entidades, que definiu que as equipes responsáveis pelos sites Achamos Sua Criança e Tô Salvo, feitas para ajudar na localização de crianças, adolescentes e adultos que possam estar longe da família, seguirão coletando os dados e, a partir de agora, os repassarão ao Ministério Público e a uma empresa de tecnologia, responsáveis por centralizar as informações. 

Para o juiz-corregedor Luís Antônio de Abreu Johnson, que dirige a CIJRS, ambas as plataformas são importantes neste momento difícil que o Estado enfrenta. "As plataformas desenvolveram um trabalho humanitário inestimável. Neste momento, precisamos proteger os dados sensíveis, obedecendo questões jurídicas como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e o sigilo que resguarda os nomes de crianças e adolescentes", destacou o magistrado.

A equipe da plataforma Achamos Sua Criança se reuniu com o TJRS na última sexta (17), após representantes de entidades e instituições salientarem a necessidade de centralização de cadastros no começo daquela semana.

Como funciona a plataforma Achamos Sua Criança?

Se você está em qualquer lugar, pode ser em um abrigo ou mesmo na rua, por exemplo, e encontrar uma criança procurando pelos pais ou responsáveis – pode ser uma criança que está sozinha ou com um tio, uma avó, uma amiga, mas ela está procurando os seus responsáveis –, você pode entrar no site www.achamosuacrianca.com.br e cadastra o menor de idade. Esses dados ficam protegidos pela LGPD.
Os pais ou responsáveis que estiverem procurando suas crianças podem entrar em contato com o Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) pelo WhatsApp (51) 99562-6647. Anteriormente, a plataforma disponibilizava um e-mail, mas a forma de encontrar os menores de idade desaparecidos mudou após decisão do TJRS nesta terça-feira.

Daniela enfatiza que o cadastro deve ser feito especificamente de crianças que estejam procurando seus pais ou responsáveis. Fotos não são disponibilizadas e ficam a cargo das autoridades, que devem confirmar se aqueles que procuram e que chegam nos locais de acolhimento são os verdadeiros responsáveis legais daquela criança ou daquele adolescente. A plataforma não possui espaço físico e tem o intuito de fazer uma ponte entre as crianças e suas famílias.

"Criança é um tópico muito sensível, a gente precisa que a imagem dessas crianças cheguem apenas aos pais. Não digo só a criança, mas as informações sobre onde ela está, porque são pessoas muito vulneráveis."

Parceria com projeto que usa IA para achar desaparecidos 

A plataforma Achamos Sua Criança tem uma parceria com o projeto Desaparecidos RS que, conforme a psicóloga, usa Inteligência Artificial (IA) e reconhecimento facial para encontrar pessoas desaparecidas. Por exemplo: você coloca a imagem do desaparecido na plataforma e consegue saber se o procurado está na base de dados de algum abrigo.

O objetivo de ambos os projetos é que esses sistemas possam expandir para todo o Estado e, para isso, ambos precisam de voluntários. "O que precisamos, em termos de voluntários, é justamente para irem de abrigo em abrigo, tirar fotos de pessoas que estão buscando sua família para alimentar a base de dados, quase como soltar um alerta de 'estou aqui!'", explica Daniela.

Para se cadastrar, os interessados devem preencher um formulário. Clique aqui e confira.

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