abc+

PEDALADAS E HISTÓRIAS

A vida dedicada ao conserto de bicicletas em Canoas

O "bicicleteiro" Geraldo Hessler trabalha há 42 anos em uma oficina

Publicado em: 27/02/2023 às 10h:03 Última atualização: 25/01/2024 às 16h:47
Publicidade

Pneu furado ou corrente arrebentada; parafuso solto ou marchas desreguladas; cabo de freio arrebentado ou guidão torto. Há 42 anos, Geraldo Hessler dedica tempo para atender a clientela que busca o conserto e restauração de bicicletas em Canoas.

Geraldo Hessler mantém em sua oficina uma rotina de muito trabalho aos 74 anos



Geraldo Hessler mantém em sua oficina uma rotina de muito trabalho aos 74 anos

Foto: PAULO PIRES/GES

Filho do primeiro homem a instalar uma oficina de bicicletas em Canoas, aprendeu com o pai Egon Hessler o ofício de mecânico. Por isso, mesmo aposentado, permanece, aos 74 anos, na ativa atendendo a uma terceira geração de clientes no bairro Fátima.

“Comecei a trabalhar no conserto de bicicletas quando não existiam as estações de trem em Canoas”, lembra. “Naquela época, a bicicleta era bem mais que diversão. Era o meio de transporte da maioria”.

Foi a partir de 1985, Geraldo conta, quando as estações começaram a ser instaladas e inauguradas na cidade, que as populares magrelas passaram a ser descartadas por muitos trabalhadores. Houve então a inevitável queda de movimento na oficina.

“É claro que existiam carros circulando, mas a gente passava em frente a uma fábrica em Canoas e via um mar de bicicletas estacionadas. Eram usadas como veículo de transporte, o que mudou por completo com a chegada do trem”.

Qualidade

A partir deste ponto, e impulsionado por campanhas como a saudosa “Não Esqueça a Minha Caloi”, exibida na TV durante toda a década de 80 e parte dos anos 90, as bicicletas de crianças passaram a responder pela maior demanda do mecânico, que diz já não se fazerem “bicicletas como antigamente”.

“A briga entre a Caloi e a Monark era grande e o tipo de produtos que criavam não existe mais no mercado. A Barra Forte, por exemplo, foi criada pela Caloi para carregar cargas pesadas. Então era normal ver o cidadão levando sacos de cimento em cima. Hoje isso existe”.

Virou uma referência

Para os mais antigos, Geraldo Hessler é um “bicicleteiro”, como eram chamados os profissionais que ganhavam a vida com o conserto das magrelas. Bastante conhecido no bairro Rio Branco, é recomendado até por quem nunca andou de bicicleta.

Morador do bairro Fátima, Augusto Nunes conta que o veterano é referência. “Outro dia mesmo um amigo meu estava indicando a oficina do seu Geraldo na Rua Rui Barbosa”, conta o metalúrgico de 47 anos. “Lembrei que esse meu amigo nunca andou de bicicleta. Perguntei por que tinha indicado o seu Geraldo. Ele falou ‘olha, só sei que é bom”. Geraldo, é claro, aprecia o carinho. “Muita gente me conhece e isso não é bom só para os negócios”, brinca.

É preciso garantir a segurança dos ciclistas

Segundo dados da Bicycle-Guider, seriam 40 milhões, em média, circulando somente no Brasil. Outro dado importante é que de cada dez bicicletas que rodam no Brasil, cinco são utilizadas como meio de transporte, segundo uma pesquisa encomendada pela Secretaria Nacional de Transporte e Mobilidade Urbana. Faltam só políticas públicas que ajudem quem pedala, segundo Geraldo.

Por se tratar de um veterano quando o assunto é bicicletas, Geraldo não deixa de achar irônico que hoje exista todo um debate a respeito da importância do uso das bikes em países do primeiro mundo. Na avaliação do profissional, o Brasil, o Rio Grande do Sul e Canoas também deveriam acelerar o processo para instalar ciclovias e incentivar o uso das bicicletas.

“A bicicleta hoje significa saúde, mas não só isso. Há toda uma discussão muito pertinente envolvendo a questão do meio ambiente e saúde do planeta, além dos problemas causados por congestionamento em todo mundo”, opina. “Seriam necessárias políticas púbicas mais assertivas para garantir a segurança dos ciclistas”, diz.

Importante respeitar e ficar atento ao trânsito

Por conta da experiência, Geraldo já deixou de contar faz tempo a quantidade de bicicletas “vítimas” de acidente que recebe em sua oficina. Isso porque não são poucos os clientes que chegam ao local após um problema no trânsito que resulta em queda no asfalto.

“Eu sei que é comum dizer que os carros não respeitam as bicicletas, mas acho que há também um problema de conscientização por parte de quem está na bicicleta”, defende. “A bicicleta deveria ocupar um espaço no trânsito como qualquer outro veículo, logo não dá para a pessoa andar com ela na contramão.”

O mecânico diz ouvir o argumento que andar na contramão é uma maneira de visualizar melhor os carros, o que não concorda.

“A gente cansa de ler sobre este tipo de acidente, porque tem aquele momento de distração no qual o ciclista invade a faixa e acaba atingido.”

Publicidade

Matérias Relacionadas

Publicidade
Publicidade