SUPERAÇÃO E INSPIRAÇÃO
A vida de Alex, que vence a cada dia as dificuldades de um menino abandonado há 40 anos
Foi através das páginas de jornais que ele começou um processo de escrita da própria história
Última atualização: 23/01/2024 11:22
A história de Alex Silva é cercada de pontos de interrogação e incertezas quanto ao seu passado e sua origem. Em maio de 1982, ele foi abandonado em uma construção na cidade de Novo Hamburgo.Passados 40 anos do fato, ninguém sabe quem deixou aquele menino, que tinha entre 2 e 3 anos, nem mesmo quem foi a pessoa que o encontrou e o levou aos órgãos responsáveis pelo acolhimento de crianças na época. Era um período anterior à criação do Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) e, além disso, não havia qualquer registro de nascimento ou pista sobre a origem daquele menino.
Foram os próprios órgãos estatais que batizaram e presumiram a idade de Alex, que então foi encaminhado à Casa Lar dos Meninos, abrigo localizado no bairro Lomba Grande. Com o passar dos anos, as lacunas do passado de Alex não foram preenchidas, e as incertezas seguem como pontos de interrogação.
Entretanto, o menino não deixou que a origem incerta determinasse seu destino. Foi através das páginas de jornais que Alex começou um processo de escrita da própria história.
Em 1992, Alex ganhou as páginas do Jornal NH, do Grupo Sinos, com a crônica "Minha Vida", um texto simples, escrito por um menino de aproximadamente 10 anos, que começava dizendo: "Eu era pequeno não lembro quem eram meus pais. Fui abandonado, não sei por que motivo". Já naquele momento o texto chamou atenção de algumas pessoas da cidade, mas a guinada em sua vida viria no ano seguinte, quando ele inscreveu uma redação semelhante em um concurso nacional de redação organizado pela Associação Nacional de Jornais (ANJ).
O objetivo, ao inscrever a redação, era tentar ficar entre os três melhores e ganhar o livro de presente. Mas Alex se sagrou o grande vencedor da disputa com mais de cinco mil concorrentes de todo País, ganhando uma viagem para a Disney.
Tudo mudou a partir de uma notícia
Desde a primeira vez em que sua história chegou ao jornal, a vida de Alex mudou. A vitória no concurso da ANJ o levou ao primeiro emprego, em uma fábrica de calçados de Parobé, para onde se mudou aos 13 anos. "Abriu muitas portas, foi justamente o concurso de redação. Naquela época a gente recebia de uma empresa para fazer o curso de marceneiro, e depois da redação me convidaram para ir para esta fábrica", conta. Assim, aos 13 anos Alex tinha uma carteira assinada e um emprego, e aos 16, mesmo ainda estando sob a tutela do Estado, já se sentia independente financeiramente.
Antes da vitória no concurso nacional, Alex chegou a iniciar por duas vezes o processo de adoção, porém acabou sendo entregue de volta ao abrigo nos dois casos. Em uma das situações, a justificativa da família que o entregava de volta era de que o, então, menino "comia demais." Essa história ele só descobriu tempos depois ao encontrar documentos do processo. Depois do concurso da ANJ, outras pessoas o procuraram para adoção, mas as experiências anteriores e a ligação construída com os funcionários do abrigo onde cresceu fez com que ele mesmo desistisse da ideia.
Hoje, Alex trabalha como auxiliar de segurança em um hipermercado de Novo Hamburgo, mas já espera um novo trabalho na área da saúde após a conclusão do curso. Conquistas do dia a dia que ganham um peso especial para um homem que desde menino superou desconfianças e o senso comum que destina um olhar de desprezo e desdém para crianças que são abandonadas por adultos e crescem sob a tutela do Estado.
Sonho de ter uma família será realizado em breve
Com a vitória no concurso nacional, Alex ganhou mais uma vez a atenção da imprensa do Estado, não apenas de Novo Hamburgo. Sua história foi contada por diversas vezes nas páginas dos jornais do Grupo Sinos, além de veículos de abrangência estadual e nacional. E tudo começou graças à leitura atenta de um texto escrito de forma despretensiosa em uma máquina de escrever. "Eu estava no abrigo auxiliando a organizar a secretaria, e tinha aquelas máquinas de escrever, então eu fui para a máquina e fiz esse texto. Na mesma semana a Karla veio até mim e perguntou o que achava de publicar no jornal."
O incentivo de Karla Mombach, que na época trabalhava como assistente social no Lar dos Meninos, foi fundamental para que o então pré-adolescente tomasse em suas mãos os rumos da própria história, mesmo com as dificuldades naturais para um jovem órfão, sem certidão de nascimento e sem nome de pai ou mãe.
"Conheci o Alex com 12 anos e continuo essa relação muito próxima. Tenho uma admiração muito grande por ele, por essa resiliência dele. Alex nunca desistiu, sempre batalhou e nunca se desviou", conta Karla, que se tornou, nas palavras do próprio Alex, uma "mãezona" para ele. Foi ela a convidada para acompanhá-lo na viagem aos Estados Unidos em 1994 após a vitória no concurso.
Foi Karla quem viu no garoto uma aptidão para a escrita, e mesmo antes do concurso que lhe daria projeção, o convidou para concorrer em um concurso de frases para um shopping da cidade. O tema, Dia das Mães.
Reencontro
Mais de 40 anos depois de ser abandonado, Alex se vê hoje prestes a realizar dois sonhos: formar uma família e concluir o curso de técnico em enfermagem. "Sempre tive o sonho de constituir uma família, agora aos 42 anos isso vai se concretizar, estamos com casamento organizado."
Alex está noivo de Renata Mello, 41 anos, com quem vive em Lomba Grande. Os dois se conheceram aos 13 anos no Curso de Liderança Juvenil (CLJ), grupo da Igreja Católica existente em diversas cidades. Foram se encontrar anos depois, através do Facebook.
Em 2014 Alex ocupou mais uma vez as páginas do Jornal NH quando iniciava o curso de técnico em enfermagem, que vai concluir no dia 1º de abril. "Sempre tive a ideia de fazer alguma coisa pelo próximo, por isso estou prestes a concluir o técnico em enfermagem."
A história de Alex Silva é cercada de pontos de interrogação e incertezas quanto ao seu passado e sua origem. Em maio de 1982, ele foi abandonado em uma construção na cidade de Novo Hamburgo.Passados 40 anos do fato, ninguém sabe quem deixou aquele menino, que tinha entre 2 e 3 anos, nem mesmo quem foi a pessoa que o encontrou e o levou aos órgãos responsáveis pelo acolhimento de crianças na época. Era um período anterior à criação do Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) e, além disso, não havia qualquer registro de nascimento ou pista sobre a origem daquele menino.
Foram os próprios órgãos estatais que batizaram e presumiram a idade de Alex, que então foi encaminhado à Casa Lar dos Meninos, abrigo localizado no bairro Lomba Grande. Com o passar dos anos, as lacunas do passado de Alex não foram preenchidas, e as incertezas seguem como pontos de interrogação.
Entretanto, o menino não deixou que a origem incerta determinasse seu destino. Foi através das páginas de jornais que Alex começou um processo de escrita da própria história.
Em 1992, Alex ganhou as páginas do Jornal NH, do Grupo Sinos, com a crônica "Minha Vida", um texto simples, escrito por um menino de aproximadamente 10 anos, que começava dizendo: "Eu era pequeno não lembro quem eram meus pais. Fui abandonado, não sei por que motivo". Já naquele momento o texto chamou atenção de algumas pessoas da cidade, mas a guinada em sua vida viria no ano seguinte, quando ele inscreveu uma redação semelhante em um concurso nacional de redação organizado pela Associação Nacional de Jornais (ANJ).
O objetivo, ao inscrever a redação, era tentar ficar entre os três melhores e ganhar o livro de presente. Mas Alex se sagrou o grande vencedor da disputa com mais de cinco mil concorrentes de todo País, ganhando uma viagem para a Disney.
Tudo mudou a partir de uma notícia
Desde a primeira vez em que sua história chegou ao jornal, a vida de Alex mudou. A vitória no concurso da ANJ o levou ao primeiro emprego, em uma fábrica de calçados de Parobé, para onde se mudou aos 13 anos. "Abriu muitas portas, foi justamente o concurso de redação. Naquela época a gente recebia de uma empresa para fazer o curso de marceneiro, e depois da redação me convidaram para ir para esta fábrica", conta. Assim, aos 13 anos Alex tinha uma carteira assinada e um emprego, e aos 16, mesmo ainda estando sob a tutela do Estado, já se sentia independente financeiramente.
Antes da vitória no concurso nacional, Alex chegou a iniciar por duas vezes o processo de adoção, porém acabou sendo entregue de volta ao abrigo nos dois casos. Em uma das situações, a justificativa da família que o entregava de volta era de que o, então, menino "comia demais." Essa história ele só descobriu tempos depois ao encontrar documentos do processo. Depois do concurso da ANJ, outras pessoas o procuraram para adoção, mas as experiências anteriores e a ligação construída com os funcionários do abrigo onde cresceu fez com que ele mesmo desistisse da ideia.
Hoje, Alex trabalha como auxiliar de segurança em um hipermercado de Novo Hamburgo, mas já espera um novo trabalho na área da saúde após a conclusão do curso. Conquistas do dia a dia que ganham um peso especial para um homem que desde menino superou desconfianças e o senso comum que destina um olhar de desprezo e desdém para crianças que são abandonadas por adultos e crescem sob a tutela do Estado.
Sonho de ter uma família será realizado em breve
Com a vitória no concurso nacional, Alex ganhou mais uma vez a atenção da imprensa do Estado, não apenas de Novo Hamburgo. Sua história foi contada por diversas vezes nas páginas dos jornais do Grupo Sinos, além de veículos de abrangência estadual e nacional. E tudo começou graças à leitura atenta de um texto escrito de forma despretensiosa em uma máquina de escrever. "Eu estava no abrigo auxiliando a organizar a secretaria, e tinha aquelas máquinas de escrever, então eu fui para a máquina e fiz esse texto. Na mesma semana a Karla veio até mim e perguntou o que achava de publicar no jornal."
O incentivo de Karla Mombach, que na época trabalhava como assistente social no Lar dos Meninos, foi fundamental para que o então pré-adolescente tomasse em suas mãos os rumos da própria história, mesmo com as dificuldades naturais para um jovem órfão, sem certidão de nascimento e sem nome de pai ou mãe.
"Conheci o Alex com 12 anos e continuo essa relação muito próxima. Tenho uma admiração muito grande por ele, por essa resiliência dele. Alex nunca desistiu, sempre batalhou e nunca se desviou", conta Karla, que se tornou, nas palavras do próprio Alex, uma "mãezona" para ele. Foi ela a convidada para acompanhá-lo na viagem aos Estados Unidos em 1994 após a vitória no concurso.
Foi Karla quem viu no garoto uma aptidão para a escrita, e mesmo antes do concurso que lhe daria projeção, o convidou para concorrer em um concurso de frases para um shopping da cidade. O tema, Dia das Mães.
Reencontro
Mais de 40 anos depois de ser abandonado, Alex se vê hoje prestes a realizar dois sonhos: formar uma família e concluir o curso de técnico em enfermagem. "Sempre tive o sonho de constituir uma família, agora aos 42 anos isso vai se concretizar, estamos com casamento organizado."
Alex está noivo de Renata Mello, 41 anos, com quem vive em Lomba Grande. Os dois se conheceram aos 13 anos no Curso de Liderança Juvenil (CLJ), grupo da Igreja Católica existente em diversas cidades. Foram se encontrar anos depois, através do Facebook.
Em 2014 Alex ocupou mais uma vez as páginas do Jornal NH quando iniciava o curso de técnico em enfermagem, que vai concluir no dia 1º de abril. "Sempre tive a ideia de fazer alguma coisa pelo próximo, por isso estou prestes a concluir o técnico em enfermagem."
Foram os próprios órgãos estatais que batizaram e presumiram a idade de Alex, que então foi encaminhado à Casa Lar dos Meninos, abrigo localizado no bairro Lomba Grande. Com o passar dos anos, as lacunas do passado de Alex não foram preenchidas, e as incertezas seguem como pontos de interrogação.