DIA DOS POVOS INDÍGENAS

A presença e os desafios da população indígena no Calçadão de Canoas

No local, nativos comercializam chás, raízes e produtos artesanais. De acordo com a Secretaria Especial de Políticas Transversais, o município não possui políticas públicas voltadas aos povos indígenas porque os nativos não residem na cidade.

Publicado em: 19/04/2023 09:50
Última atualização: 04/03/2024 17:00

Nesta quarta-feira (19) se comemora o Dia dos Povos Indígenas. A data marca a diversidade das culturas dos povos originários. Em Canoas, ao andarmos pelas ruas da região do Calçadão, é possível, ao longo do percurso, cruzarmos com certa facilidade com indivíduos e até famílias inteiras de etnia indígena.

Maria Fernandez e os netos são descendentes do povo Guarani Foto: Taís Forgearini/GES-ESPECIAL

A maioria dos nativos de origem Guarani e Kaingang comercializa chás, raízes e produtos feitos artesanalmente nas aldeias em que vivem. Oriundos de comunidades indígenas dos municípios de Mariana Pimentel (aldeia Tekoa Mirim) e Porto Alegre (aldeia Morro do Osso).

Em busca de melhores condições financeiras, os indígenas guarani da Tekoa Mirim se deslocam cerca de 80 km até o centro de Canoas. A aldeia fica situada na Estrada Geral, na localidade Passo da Estiva, aproximadamente 15 km do centro da cidade de Mariana Pimentel.

Dificuldades

"Saio às 7 horas para pegar o ônibus até a rodoviária da capital, a viagem dura cerca de 1 hora e meia, depois pego o trem até o centro de Canoas. Fico vendendo chás e cestinhas feitas de bambu e taquara até umas 16h30. Chego por volta das 19 horas na aldeia", relata Maria Fernandez.

Maria costuma vir de uma a três vezes por semana. Ela aponta o custo das passagens como principal dificuldade. "Gasto cerca de R$ 50,00 para vir e voltar. Não recebemos nenhuma ajuda para deslocamento. Tudo é por nossa conta", ressalta.

A descendente de Guarani, de 50 anos, costuma vir até Canoas com os dois netos, entre 3 e 5 anos. "Vendo meus produtos aqui, às vezes também ganhamos algumas doações das pessoas."

Busca por melhores condições de vida

Não se sabe ao certo o número de indígenas que circulam diariamente pelo Centro de Canoas. O português deles não é fluente, mas compreensível. Mas é possível perceber no olhar, nas linhas e expressões faciais deles um misto de tranquilidade e sacrifícios. Um povo que apesar de aceitar doações, não quer esmolas, mas sim ter condições de vender aquilo que planta e produz.

De acordo com a Secretaria Especial de Políticas Transversais, o município não possui políticas públicas voltadas aos povos indígenas porque os nativos não residem na cidade. Segundo a pasta, não há comunidades indígenas em Canoas. Como acontece em outras cidades, os povos originários marcam presença nas ruas do Calçadão na luta cotidiana pelo sustento.

Ampliação na comercialização de produtos e vitória nos estudos

As nativas do povo Kaingang Evanci Salvador, de 31 anos, e Jocimara Penvã-si de Oliveira, de 33 anos, são da aldeia do Morro do Osso. Elas vêm até a área central de Canoas para comercializar produtos de origem indígena e industriais. "Antigamente conseguíamos nos manter apenas com as vendas do que plantávamos e produzíamos, mas já faz algum tempo que precisamos também comerciar outros itens, como meias, toucas, chinelos, cachecóis", diz Evanci.

Evanci comercializa no Calçadão de Canoas há 5 anos Foto: Taís Forgearini/GES-Especial

A dupla conta que no verão vai para a praia vender filtros dos sonhos e pulseiras feitos na aldeia. "É uma forma de não perder vendas. É um período que na cidade é mais difícil de comercializar dentro da cidade", relata Jocimara.

Evanci explica que na aldeia não é vantajoso vender. "Tem muita concorrência e pouca demanda. A maioria vai para outros municípios vender. É a nossa fonte de renda por enquanto. Esse ano comecei a cursar nutrição na Ufrgs. Nos dias que tenho aula, vem só a Jocimara. Espero me tornar uma nutricionista."

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