Nesta sexta-feira (19) o Brasil celebra o Dia dos Povos Indígenas. Em São Leopoldo, para a comunidade da aldeia caingangue Por Fi Ga, no bairro Campestre, a data é marcada pelo enaltecimento da cultura e também pela reivindicação de direitos básicos. No local, que fica na Estrada do Quilombo, vivem mais de 300 pessoas, integrantes de 85 famílias.
Na antiga área verde, devolvida pelo poder público aos caingangues, os residentes se sustentam majoritariamente pela produção e venda do artesanato. Na área existem casas de madeira, de alvenaria e mistas. Também há uma igreja e um espaço de saúde indígena, recém reformado.
Cacique da aldeia há cerca de um ano, Elton Luís Nascimento da Costa, 25 anos, comenta que, diferentemente de anos anteriores, neste, não haverá a tradicional festa na aldeia, quando a comunidade abre as portas para visitantes de fora conhecerem de perto a cultura caingangue.
“Não temos recurso para realizarmos o evento neste ano. Aqui vivemos basicamente do nosso artesanato e de doações”, comenta. Mesmo não havendo a programação tradicional, a aldeia segue recebendo a visita de escolas da cidade e da região. No tour pelo local, os estudantes aprendem sobre a vida no espaço, os hábitos e costumes dos seus habitantes.
Natural de Nonoai, Costa reside na aldeia leopoldense desde pequeno. Para ele, viver na comunidade é um privilégio. “Fomos os primeiros habitantes do Brasil. Temos muitas dificuldades aqui na aldeia, mas me sinto privilegiado, pela nossa linguagem única, nossa cultura, por tudo o que somos”, diz.
Vice-cacique da aldeia José Vergueiro, 55, destaca que apesar dos avanços conquistados nos últimos 15 anos, a comunidade local precisa de mais atenção do poder público. “Necessitamos de saneamento, da nossa escola, que as pessoas olhem para nós sem preconceito porque São Leopoldo sempre foi terra de índio”, diz.
Luta por educação
A reconstrução da escola, interditada desde agosto de 2016, segue sendo esperada. Já há, no entanto, um esboço de projeto e uma área destinada para a construção. O que não existe ainda é a previsão de quando o sonho da nova escola dos caingangues sairá do papel. Enquanto isso, os alunos do primeiro ao quarto ano têm aulas improvisadas no galpão do Centro Cultural da aldeia.
Já os demais estudantes estão matriculados em escolas fora da comunidade. O projeto da nova escola contempla o atendimento a alunos do primeiro ao nono ano. Além das salas de aula, terá também quadra de esportes e pracinha. O cacique Costa fala sobre a importância de contar com um lugar próprio e adequado para as crianças caingangues.
“Me preocupa por tudo o que passei na escola fora da aldeia. Quase comecei a sentir vergonha da minha cultura e era alvo de piadas por falar de forma errada as palavras em português. A convivência com o branco faz com que se perca a nossa linguagem. E é um espaço complicado de adaptação, pois ainda há muito preconceito.”
Procurada pela reportagem, a Secretaria Estadual da Educação informou que a nova escola será feita com módulos pré-fabricados. “O processo de adesão à ata se encontra em análise jurídica”, diz a nota.
Um espaço de saúde renovado
Em dezembro do ano passado, a prefeitura entregou à comunidade a reforma do espaço de saúde da aldeia. A melhoria era uma antiga reivindicação dos moradores. O investimento foi de R$ 88 mil e resultou em novas instalações, que beneficiam, principalmente, o atendimento de mulheres residentes no local.
“Primeiro foi a luta para sair da margem da BR-116, depois por moradia, depois para vir escola, agora o posto de saúde. Enquanto nós estivermos aqui, governaremos com esse olhar social. Que a gente saiba valorizar essa comunidade, que tem muito a nos ensinar sobre a vida em harmonia com a família, o trabalho e o meio-ambiente”, destacou o prefeito Ary Vanazzi na inauguração do prédio.
LEIA TAMBÉM