INVESTIGAÇÃO
PASSAPORTE, JOIAS E OBRAS DE ARTE: O que Moraes mandou a PF apreender em operação contra hacker e Zambelli
Ordem judicial inclui permissão para agentes vasculharem "cômodos secretos" e determina apreensão de dinheiro e bens no valor acima de R$ 10 mil
Última atualização: 02/08/2023 12:39
A Polícia Federal (PF) prendeu na manhã desta quarta-feira (2) Walter Delgatti Neto, hacker que revelou mensagens trocadas entre o ex-juiz Sérgio Moro e ex-integrantes da Operação Lava Jato, entre eles o ex-deputado Deltan Dallagnol. A corporação ainda faz buscas em quatro endereços ligados à deputada federal Carla Zambelli.
Os dois são os principais alvos da Operação 3FA, que investiga a suposta invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e inserção de documentos e alvarás de soltura falsos no Banco Nacional de Mandados de Prisão (BNMP).
Segundo a PF, a ofensiva investiga delitos que ocorreram entre 4 e 6 de janeiro, quando teriam sido inseridos no sistema do CNJ 11 alvarás de soltura de presos por motivos diversos e um mandado de prisão falso contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.
Depoimento de hacker cita Zambelli e Bolsonaro
Em depoimento, o hacker implicou Zambelli diretamente pela invasão do sistema do CNJ e inserção da ordem de prisão fraudulenta contra Moraes. Segundo a PF, Walter Delgatti disse que recebeu pagamentos como "contraprestação para ficar à disposição da parlamentar".
Ele ainda citou o ex-presidente Jair Bolsonaro. Disse ter encontrado o ex-chefe do Executivo no Palácio do Alvorada, "tendo o mesmo lhe perguntado se o declarante, munido do código fonte, conseguiria invadir a urna eletrônica". Segundo o hacker, "isso não foi adiante, pois o acesso que foi dado pelo TSE foi apenas na sede do Tribunal".
Dinheiro e bens acima de R$ 10 mil
A ofensiva foi aberta por ordem do próprio Alexandre de Moraes, que mandou a PF apreender dinheiro e bens (joias, veículos, obras de arte e outros objetos) em valores superiores a R$ 10 mil, além de passaportes, computadores, celulares e armas dos investigados.
O despacho dá aval para os investigadores vasculharem inclusive "cômodos secretos" que eventualmente encontrassem nos endereços.
O ministro ainda determinou a quebra do sigilo bancário dos investigados. Outro alvo da operação é Thiago Eliezer Martins Santos, que também foi investigado na Operação Spoofing, junto de Walter Delgatti, o "Vermelho".
O inquérito e a "3FA"
Ao todo, os investigadores cumprem cinco ordens de busca e apreensão - duas em São Paulo e três no Distrito Federal. São apurados supostos crimes de invasão de dispositivo informático e falsidade ideológica.
A PF indica que as inserções se deram após a invasão criminosa aos sistemas do CNJ, com o uso de credenciais falsas obtidas ilicitamente.
O inquérito em questão foi aberto perante a Justiça Federal para apurar a invasão ao sistema do CNJ, mas acabou remetido ao STF após "indícios de possível envolvimento de pessoa com prerrogativa de foro" – no caso, a deputada Carla Zambelli.
O nome da Operação, "3FA", faz referência à autenticação de dois fatores, a exigência de duas formas de identificação para acessar recursos e dados.