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ENTRE ESTAÇÃO E TERMINAL

Maior aeroporto da América do Sul recebe tecnologia da região

Aeromóvel é um produto da Aerom, empresa dedicada ao fornecimento de projeto e implementação de sistemas de mobilidade urbana

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Publicado em: 11/10/2024 às 12h:56 Última atualização: 11/10/2024 às 12h:57
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Uma tecnologia conhecida dos gaúchos, desenvolvida por uma empresa cuja sede está instalada em São Leopoldo há mais de três décadas, surge como a solução para um problema histórico no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos: a mobilidade dos passageiros entre a estação de trem mais próxima e os terminais do aeroporto.

Primeiro carro foi instalado recentemente sobre os trilhos da linha AeroGRU, em São Paulo, e está em fase de testes | abc+



Primeiro carro foi instalado recentemente sobre os trilhos da linha AeroGRU, em São Paulo, e está em fase de testes

Foto: Ministério de Portos e Aeroportos

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O Aeromóvel, que há mais de 10 anos conecta passageiros entre o Aeroporto Internacional Salgado Filho e uma estação da Trensurb, em Porto Alegre, está em fase de instalação no GRU Airport, que é considerado o maior aeroporto da América do Sul. Com previsão de iniciar as operações ainda este ano, o Aeromóvel A200 começou a ser montado na linha do aeroporto paulista no mês passado, e tem a capacidade de transportar até 4 mil pessoas por hora, em duas linhas [ida e volta].

Conforme o Ministério de Portos e Aeroportos, o primeiro veículo já foi instalado e passou por testes. O Aeromóvel é um produto da Aerom, empresa dedicada ao fornecimento de projeto e implementação de sistemas de mobilidade urbana, que integra o Grupo Coester, no mercado desde 1960.



Rota que chega a levar 45 minutos, será feita em 6

O AeroGRU, como foi batizado o percurso que irá circundar o aeroporto, terá linha de aproximadamente 3 quilômetros e quatro estações, que darão acesso aos três terminais de embarque/desembarque do aeroporto de Guarulhos. A previsão é de que a rota seja feita em apenas 6 minutos.

Primeiro carro foi instalado recentemente sobre os trilhos da linha AeroGRU, em São Paulo, e está em fase de testes | abc+



Primeiro carro foi instalado recentemente sobre os trilhos da linha AeroGRU, em São Paulo, e está em fase de testes

Foto: Aerom

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Hoje, um passageiro que desembarca na Linha 13-Jade, estação da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) mais próxima, e quer chegar ao aeroporto, depende de ônibus, que é gratuito, ou precisa chamar um motorista de aplicativo.

Nas duas opções, contudo, é preciso encarar o trânsito normal da Rodovia Hélio Smidt, e em horários de pico, devido ao congestionamento, esse percurso pode levar de 40 a 45 minutos para ser feito. “Essa situação faz com que muitos passageiros percam voos, e esse era um desafio que a concessionária [GRU Airport] precisava resolver ao assumir a administração do aeroporto”, explica Tiago Costa, gerente comercial da Aerom para a América Latina.

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O Aeromóvel A200 é automático, e é controlado por operadores que ficarão em uma base de comando. As locomotivas são acessíveis e equipadas com ar condicionado, WiFi, espaço para bagagens e painéis de informações conectados ao aeroporto. O transporte será gratuito.



Aeromóvel funciona como um barco a vela

O funcionamento do Aeromóvel muito se assemelha com o de um barco a velas. Se o barco em questão é movido pelo vento natural, o Aeromóvel projetado por Coester na década de 70 também é movido por vento, mas este é produzido por ventiladores estacionários de alta eficiência energética.

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Ilustração mostra o funcionamento do Aeromóvel: ventiladores projetam vento para dentro de um duto, onde está instalada uma placa de propulsão que, por sua vez, está fixa no carro. A força do vento faz o Aeromóvel se mover. | abc+



Ilustração mostra o funcionamento do Aeromóvel: ventiladores projetam vento para dentro de um duto, onde está instalada uma placa de propulsão que, por sua vez, está fixa no carro. A força do vento faz o Aeromóvel se mover.

Foto: Aerom

Esse vento artificial é projetado para dentro de um duto, que é a base do monotrilho, onde há uma placa de propulsão fixa ao Aeromóvel propriamente dito. Através desse sistema, o ar empurra ou puxa a referida placa, fazendo com que o carro se mova por rodas de aço sobre trilhos ferroviários.

Todo o sistema, como velocidade e abertura de portas, é operado por controladores que ficam em uma sala de comando. Por isso, o Aeromóvel não possui um motor acoplado, é totalmente automático e não tem piloto.

Três perguntas para Marcus Coester, diretor da Aerom

O empresário Marcus Coester é o CEO da Aerom e filho do inventor do Aeromóvel, o técnico em mecânica e eletrônica Oskar Coester, que trabalhou no setor de manutenção de aeronaves da Varig. O “pai do Aeromóvel” faleceu em 2020, aos 82 anos, quando as tratativas para a construção de um linha no aeroporto de Guarulho já haviam começado.

Empresário Marcus Coester, CEO da Aerom e filho do inventor do Aeromóvel, em frente ao primeiro modelo de Aeromóvel criado pelo pai | abc+



Empresário Marcus Coester, CEO da Aerom e filho do inventor do Aeromóvel, em frente ao primeiro modelo de Aeromóvel criado pelo pai

Foto: Isaías Rheinheimer/GES-Especial

Marcus mantém firme o propósito do pai, de tornar o Aeromóvel uma solução para as questões de mobilidade urbana e de sustentabilidade. A construção do Aeromóvel em um dos maiores aeroportos do mundo é encarado como um divisor de águas para a empresa, que desde a década de 80 tenta emplacar o modelo mundo afora. Confira três perguntas para o homem à frente do projeto:

A construção do aeromóvel em Guarulhos coloca o projeto em outro patamar. A empresa trabalha no sentido de apresentá-lo como a solução para questões de mobilidade urbana?

Antes de mais nada é importante que se diga que a tecnologia é nossa. A parte intelectual por trás de toda essa operação é Capilé. Bom, o Aeromóvel tem claramente uma vocação de ser uma solução não só para aeroportos, mas para o urbano também. O projeto tem uma vocação para ser a solução transformadora em nível mundial, porque as cidades hoje precisam de sistemas de mobilidade com essas características: sistemas elétricos, automatizados, de alta qualidade e que tragam melhorias para a forma de as pessoas se movimentarem. E tem um elemento novo no processo, que é a crise climática. E aí o Aeromóvel brilha, porque ele tem uma eficiência energética muito grande. Então, além de ser elétrico, que é um dos desafios hoje, é muito eficiente e gasta pouca energia. Então, a resposta para a sua pergunta é sim. O Aeromóvel atende aplicações urbanas de média capacidade. Na verdade, ele foi desenhado para isso.

Assim que concluído o projeto de Guarulhos, já existe alguma prospecção de implementar o sistema em algum outro local ou cidade?

A necessidade desse tipo de solução é muito grande no mundo todo. Talvez as regiões mais bem estruturadas em termos de malha metro-ferroviária hoje, como o norte da Europa e a Ásia, tem investido muito em ferrovias. Agora, fora esses mercados, inclusive América do Norte, são regiões que têm um trânsito absolutamente caótico e a questão climática bateu na porta. Então, esses investimentos [para tentar reduzir os impactos contra o meio ambiente] vêm pela frente. Nós temos, na verdade, uma série de projetos em andamento hoje, em diferentes estágios. Mas esses investimentos em infraestrutura são, por natureza, lentos. Claro que Guarulhos vai ser um tremendo cartão de visita, mas a velocidade desses projetos nunca é muito rápida. Já estamos treinados a ter paciência.

O Aeromóvel é uma invenção da década de 80, e desde sua concepção se mostra, comprovadamente, altamente sustentável. Por que esse modelo de transporte ainda não se popularizou no mundo?

É que a via elevada, como foi projetado o Aeromóvel, é uma coisa muito nova dentro do urbanismo. Quantas cidades no mundo tem sistemas elevados? Pouquíssimas. Então, assim, a solução elevada automática ainda é uma tecnologia muito nova. Esse problema [a não popularização do Aeromóvel] começa no planejamento urbano que muitas vezes não inova e não busca esse modal. A gente sempre busca o metrô. Só que o metrô tem uma viabilidade econômica para a maioria das cidades, porque ele é muito caro. Já o uso de trem está praticamente descartado dentro da cidade pela necessidade de botar um muro. Para um sistema de transporte ter eficiência, você precisa ter uma via segregada, que não provoque interferência no trânsito de veículos, de pedestres, de nada. Só que isso ainda é uma coisa muito nova para as cidades, são poucas que estão pensando e considerando essa alternativa. Enfim, temos um caminho longo para percorrer, mas temos uma perspectiva diferente agora, com esses desafios de mobilidade e climáticos.

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