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SÃO PAULO

Mãe faz gambiarra no carro para manter filha viva durante apagão: "Fiz de tudo"

Menina não pode ficar dez segundo longe do aparelho; apagão aconteceu na sexta e Enel só foi religar energia no final da manhã de segunda

Publicado em: 15/10/2024 às 15h:13 Última atualização: 15/10/2024 às 15h:13
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Luciana Nietto precisou conectar o aparelho respirador da filha no acendedor de cigarro do carro, por meio de três extensões, para garantir que Heloísa, de 18 anos, continuasse respirando. A jovem de 18 anos, que tem uma doença rara – Atrofia Muscular Espinhal (AME) – não pode ficar dez segundos longe do aparelho. Depois, precisou fazer um “gato” na casa do vizinho, que em solidariedade à situação da família, emprestou sua energia elétrica para Luciana.

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As “gambiarras” foram necessárias porque a casa onde moram mãe e filha ficou cerca de 60 horas sem o serviço de energia elétrica, desde antes das 20 horas de sexta-feira (11), após a tempestade que gerou um apagão na Grande São Paulo.

A Enel só foi religar a energia na residência da família, em São Bernardo do Campo, no final da manhã desta segunda-feira (14), mesmo o imóvel tendo Cadastro de Cliente Sobrevida (Vital), onde há prioridade no atendimento de solicitações de emergência e no atendimento da religação.

Em nota, a Enel diz que tem “trabalhado incessantemente” para reparar a rede elétrica. “A companhia reforçou as equipes próprias em campo, recebeu apoio de técnicos de outras distribuidoras e deslocou profissionais de outros Estados”, disse a companhia.

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Luciana conta que passou noites em claro pela preocupação de que algum dos aparelhos parasse de funcionar devido à falta de energia. Entre a noite de sexta-feira e a manhã de sábado (12), o respirador de Heloisa ficou ligado graças aos dois nobreaks (aparelho que conta com bateria interna e evita desligamento repentino) que Luciana mantém em casa. Como ele aguenta apenas algumas horas fora da tomada, a mãe precisou ficar se deslocando para casa de vizinhos que tinham energia para poder carregá-los, e chegou até mesmo a ter que emprestar o aparelho de outra pessoa.

Nesse meio tempo, ligava o respirador no carro como alternativa. Para isso, precisava deixar o veículo ligado e conectar três extensões, uma seguida da outra, da garagem da casa até o quarto da filha, onde mantém uma “mini UTI”, com diversos aparelhos que precisam de energia elétrica para funcionar.

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“Como eu tenho um inversor, que conecta no acendedor do carro e vira uma tomada 110V, conectei e levei até o quarto da Helô. Primeiro eu testei no celular, vi que carregou, não explodiu nem nada, e aí pus no respirador”, conta a mãe.

Como o sinal de telefonia também estava instável após a tempestade, Luciana ficou com receio de ter alguma intercorrência e não conseguir chamar uma ambulância ou pedir ajuda.

Entre várias ligações para a Enel – muitas das quais não foram atendidas, mesmo quase uma hora esperando – a mãe recebeu da empresa a sugestão de levar a filha para o hospital, mas Luciana evitou ao máximo essa opção. “Eu fiz de tudo para ela não ir para o hospital, porque a última internação dela foi um show de horror. O plano de saúde tirou o home care dela. E o que eram três dias de internação para extração de um dente, viraram 45 dias. Só consegui tirar ela de lá por causa de ação judicial”, relata.

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Mesmo com as soluções improvisadas, alternando entre o fornecimento de energia dos nobreaks e do carro, a mãe percebeu que a saúde da filha estava prejudicada, porque não conseguia utilizar os demais aparelhos. Com isso, no domingo, ainda sem previsão de retorno do serviço, a família contou com a solidariedade de um vizinho, que permitiu que Luciana chamasse um eletricista para ligar sua caixa de energia à casa dele.

“Depois disso, a Enel mandou um caminhão com gerador, mas eu falei que não precisava, já estava conectada no meu vizinho. Eu fiquei com a energia dele cerca de 24 horas”, conta.

Agora, mesmo com a energia elétrica restabelecida em sua casa, Luciana relata prejuízo devido à perda da medicação que Heloísa toma. “A medicação para tratamento da AME é de alto custo, R$ 164 mil por mês. É uma medicação de refrigeração. Perdemos a medicação. Não sei quando a operadora vai enviar outro. O tratamento para a AME está interrompido”, diz.

“É uma situação complicada porque eles sabem que é alta complexidade, tem o cadastro vital e não priorizaram. A gente cobrava eles, mas teve uma demora enorme. Graças a Deus não acabou o oxigênio, senão não teria um final feliz”, relata a mãe.

Ela afirma que a Enel só religou sua energia após publicar o vídeo contando a situação nas redes sociais. “Em questão de meia hora, quatro pessoas diferentes da Enel entraram em contato comigo e duas citaram a repercussão do vídeo. O motorista da Enel que veio restabelecer a energia elétrica do vizinho ontem à noite, falou também que se não fosse a repercussão, meus vizinhos ainda estariam sem energia elétrica provavelmente até quarta-feira”, diz.

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