ECONOMIA
Ibovespa segue em máxima histórica e dólar sobe mais de 1%
Giro de terça-feira ficou em R$ 21,2 bilhões, mais fraco do que os R$ 25,5 bilhões da sessão anterior
Última atualização: 21/08/2024 15:03
O Ibovespa renovou máxima histórica de fechamento pelo segundo dia, na terça-feira (20), na casa inédita dos 136 mil pontos, mesmo sem contar com o apoio de Petrobras (ON -0,36%, PN -0,39%) e também de parte do setor metálico (CSN ON -1,00%, Usiminas PNA -0,77%) à exceção de Vale (ON +0,39%) e de Gerdau (PN +0,57%, na máxima do dia no fechamento).
Dessa forma, o índice mostrava ganho de 0,23%, aos 136.087,41 pontos no encerramento, avançando agora 1,59% na semana e 6,61% no mês, o que coloca a alta do ano a 1,42%. O giro desta terça-feira ficou em R$ 21,2 bilhões, mais fraco do que os R$ 25,5 bilhões da sessão anterior.
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Após atingir na semana passada o menor patamar desde novembro de 2022, o preço do minério de ferro voltou a subir nesta semana, impulsionado pelo aço da China, principal mercado consumidor da commodity. Ainda assim, mesmo com a recuperação dos últimos dois dias, analistas ouvidos pelo Broadcast apontam que dúvidas sobre a demanda e a falta de estímulos vigorosos no mercado chinês devem limitar recuperação mais expressiva ao longo do ano, reportam os jornalistas Beatriz Capirazi, Júlia Pestana e Jorge Barbosa.
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Apesar de o setor metálico não ter contribuído como ontem, em novo pico histórico intradia, no meio da tarde, o Ibovespa foi hoje aos 136.329,79 pontos, em renovação de máxima, durante a sessão, desde a última quinta-feira.
Na ponta ganhadora do Ibovespa, destaque nesta terça-feira para Braskem (+3,15%), Klabin (+3,10%) e Petz (+3,00%). Na ponta oposta, CVC (-4,67%), Assai(-4,58%) e Lwsa (-3,83%). Entre as blue chips, o desempenho positivo dos grandes bancos - com Santander (Unit +1,04%) e Itaú (PN +0,73%) à frente - contribuiu para nova alta do Ibovespa, na contramão de Nova York na sessão.
Entre os destaques individuais, as ações da Braskem foram impulsionadas hoje por recomendação de compra emitida pelo Citi, diz Felipe Castro, sócio da Matriz Capital, enquanto as da Weg (+2,55%) mostraram recuperação parcial, hoje, ante baixa de 2,74% na sessão anterior - dando continuidade, assim, à tendência de alta, que se aproxima de 50% desde o início do ano, acrescenta Castro.
No quadro mais amplo, "os bancos estão dando sequência à recuperação vista no mês, inclusive Bradesco (ON -0,21%, PN +0,38% na sessão), o que ajuda o Ibovespa a buscar novos patamares recordes. Vale também foi bem hoje, enquanto Petrobras destoou entre os maiores nomes do Ibovespa. A perspectiva externa também se mantém positiva, com a expectativa pelo 'pouso suave' dos Estados Unidos", diz Gabriel Mota, operador de renda variável da Manchester Investimentos, enfatizando a falta de novos catalisadores, de peso, nesta terça-feira.
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Assim, a melhora do Ibovespa prosseguiu na sessão a despeito da realização observada no câmbio e também na ponta longa da curva de juros doméstica, observa o operador. "Houve uma realização saudável nesses ativos câmbio e juros futuros em relação aos movimentos recentes", diz Mota, ao comentar a alta de 1,31% no dólar à vista nesta terça-feira, a R$ 5,4831 no fechamento, após a moeda americana ter saído, recentemente, de um "patamar muito alto".
"Ontem, XP e BTG, dois 'players' relevantes, fizeram reprecificações sobre a Selic, colocando a taxa de referência a 11,75% no fim de 2024 e a 12% em janeiro de 2025 em suas estimativas, o que contribuiu para acalmar os juros futuros. Se esse movimento for acertado, há uma pressão menor na curva, estressando menos, assim, os ativos de risco como ações", acrescenta o operador.
No quadro externo, os investidores globais devem permanecer em "compasso de espera", tendo em vista a proximidade de eventos importantes, em especial a ata do Fomc o comitê de política monetária do Federal Reserve, na quarta-feira, e o discurso de Jerome Powell no simpósio de Jackson Hole, na sexta-feira, aponta Eduardo Plastino, analista de renda variável da Alta Vista Research. Nesse contexto, hoje, os principais índices de ações permaneceram em margem de variação estreita em Nova York, em baixa de 0,15% (Dow Jones), de 0,20% (S&P 500) e de 0,33% (Nasdaq) no fechamento.
Dólar
O dólar à vista acelerou o ritmo de alta à tarde e chegou a se aproximar do nível de R$ 5,50 nas máximas, acompanhando a onda de valorização da moeda americana em relação a divisas pares do real, como o peso mexicano e rand sul-africano. Operadores afirmam que houve um movimento de ajustes e realização de lucros com moedas emergentes, após a onda recente de apreciação deflagrada por apostas em corte mais agressivo de juros pelo Federal Reserve a partir de setembro.
Além do ambiente externo desfavorável, pesa sobre o real o tom mais ameno do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em relação aos próximos passos do Comitê de Política Monetária (Copom). Boa parte da apreciação da moeda brasileira nos últimos dias havia sido atribuída a falas duras do diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, interpretadas por ala relevante do mercado com sinalização de elevação iminente da taxa Selic.
Em alta firme desde a abertura, o dólar à vista rompeu os R$ 5,45 logo após a abertura dos negócios. A máxima, a R$ 5,4924, veio no início da tarde, em sintonia com o exterior. No fim do dia, a moeda avançava 1,31%, a R$ 5,4831 - o que reduziu a desvalorização acumulada em agosto, que ontem era de 4,30%, para 3,04%.
O giro de negócios foi moderado, o que sugere ausência de alterações relevantes no posicionamento dos investidores. Principal termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para setembro movimentou pouco mais de US$ 12 bilhões. Ontem, os investidores estrangeiros reduziram a posição "comprada" em dólar em cerca de US$ 1,7 bilhão, segundo dados da B3.
Para o head de câmbio da B&T Câmbio, Diego Costa, parte do tropeço de divisas emergentes hoje se deve à falta de novos estímulos à economia chinesa. Ontem à noite, o Banco do Povo da China (PBoC, o banco central do país) decidiu manter inalteradas suas principais taxas de juros. "Isso reforçou o cenário de aversão ao risco, em quadro já de cautela com a divulgação da ata do Fed amanhã e o discurso do presidente Jerome Powell, na sexta-feira, no Simpósio de Jackson Hole", afirma.
O economista André Galhardo, consultor da Remessa Online, ressalta que o peso mexicano e o real são as divisas emergentes que mais perdem hoje. Ele observa que ainda "há incertezas" sobre a magnitude do provável corte de juros pelo Fed no próximo mês, após dados recentes colocarem em xeque a aposta em uma redução de 50 pontos-base.
"As duas moedas refletem preocupações internas e incertezas sobre os próximos passos do Fed. O movimento do real pode ser quase integralmente atribuído às falas do presidente do Banco Central, que adotou um tom mais brando sobre eventual aumento na taxa de juros", diz Galhardo.
Em tese, a combinação de uma alta da taxa Selic com início de relaxamento monetário pelo BC americano seria benéfica para o real por aumentar o diferencial de juros interno e externo, elevando a atratividade das operações de carry trade. Além disso, há quem considere que o discurso duro de Galípolo, se seguido por uma alta da taxa Selic, traria ganhos de credibilidade ao BC. Isso poderia reduzir prêmios de risco e, por tabela, levar a uma queda do dólar no mercado doméstico.
Em entrevista ao jornal O Globo, Campos Neto jogou água na fervura das apostas em alta dos juros. "A gente sempre disse que se fosse necessário subir os juros, subiria, mas não lembro de ter falado de alta de juros", afirmou o presidente do BC. "O mercado já vinha colocando um pouco de expectativa de alta na curva. Mas não depende só do mercado, precisa olhar o cenário daqui para frente."
Para Galhardo, da Remessa Online, o presidente do BC foi ainda mais "dovish" durante participação em evento do BTG Pactual, quando afirmou que a inflação no Brasil, no México e no Chile se deve basicamente à pressão dos preços de alimentos e energia. "Campos Neto ressaltou ainda que, embora represente um risco em potencial para a inflação, a redução da taxa de desemprego ainda não havia promovido perturbações inflacionárias", afirma.
Mais cedo, ao Globo, Campos Neto revelou que o BC se preparou para "intervir de fato" no mercado de câmbio, mas que a decisão de ficar de lado se mostrou acertada. Ele ressaltou que não havia problemas de liquidez, mas que a desvalorização rápida da moeda trouxe um debate. Para Campos Neto, a forte pressão sobre a divisa era passageira e uma intervenção poderia passar "a percepção errada" ao mercado.
Juros
Num movimento inverso ao de ontem, a curva de juros ganhou inclinação nesta terça-feira, com as taxas curtas em baixa e as demais, em alta firme. Declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, destacando que a alta da Selic, como precificado pela curva, não está decidida ainda e o avanço do dólar ante o real trouxeram ajustes nos principais vencimentos. Com isso, apostas mais agressivas de aperto nos próximos meses refluíram um pouco.
No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 10,795%, de 10,844% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 caía de 11,55% para 11,48%. O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 11,41% (de 11,40%) e a do DI para janeiro de 2029, taxa de 11,45%, de 11,38%.
Tanto na entrevista à jornalista Miriam Leitão quanto em evento do banco BTG, Campos Neto ressaltou o caráter "data dependent" das próximas decisões de política monetária, o que explica o fato de o BC não ter colocado nenhum tipo de guidance. De todo modo, reiterou que se for preciso a Selic vai subir. "Continuamos entendendo que é importante esperar, ver os dados", afirmou hoje. Até porque, na entrevista, ele pontuou que há uma dúvida entre os membros do Copom se os riscos estão simétricos ou não, se o risco de aumento e queda de inflação, são iguais.
Foi um recado para os mais 'hawkish' com a política monetária e a curva respondeu com alívio nas taxas curtas e pressão de alta nas longas. A probabilidade de aumento de 50 pontos-base para a Selic em setembro, ontem em 20%, caía para 12% a meados da tarde. O orçamento total de alta recuava a 155 pontos-base, de 160 pontos-base ontem. Os cálculos são do economista-chefe do banco Bmg, Flávio Serrano.
O dólar fechou em alta de 1,31%, a R$ 5,4831. "Houve um desarme em posições, especialmente de hedge funds, que operam DI e câmbio de forma casada. Mas o cenário segue positivo", afirma Beto Saadia, diretor de Investimentos da Nomos.
Para ele, o ajuste de hoje não altera a perspectiva benigna, apoiada no endurecimento do discurso do Banco Central quanto à trazer a inflação de volta à meta, nos indícios de um soft landing da economia americana e da melhora do quadro fiscal, sendo que estes dois últimos fatores tendem a ganhar evidência nos próximos dias. Na sexta-feira, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, discursa no Simpósio de Jackson Hole e a expectativa é de endosso às apostas de início do ciclo de flexibilização dos juros nos EUA em setembro. Pelo lado doméstico, o governo vai entregar a proposta orçamentária de 2025 na próxima semana, "já com parte importante de revisão de gasto, mas ainda há com um pedaço a fazer", nas palavras do secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan.