RELATO EMOCIONANTE

"Fez uma poça de sangue": Vítima que denunciou Felipe Prior por estupro relembra noite do crime

Ex-BBB foi condenado a seis anos de prisão em regime semiaberto pelo crime de estupro, que aconteceu na madrugada de agosto de 2014

Publicado em: 17/07/2023 10:57
Última atualização: 17/10/2023 15:30

Felipe Prior, ex-BBB, foi condenado a seis anos de prisão em regime semiaberto pelo crime de estupro. O arquiteto poderá recorrer da decisão e responder ao processo em liberdade.

Mulher que denunciou Felipe Prior faz relato emocionante Foto: Redes sociais/Reprodução

Os advogados de Prior disseram em nota que: “a defesa de Felipe Antoniazzi Prior reitera a inocência de Felipe e que a sentença prolatada pela 7ª Vara Criminal de São Paulo será objeto de recurso de apelação ao Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo”.

A mulher que denunciou o arquiteto, deu detalhes sobre o que aconteceu na noite do crime em uma entrevista ao G1 e ao Fantástico.

Antes do crime

Themis e Prior se conheceram na escola, quando estudaram no mesmo colégio. Após a finalização do ensino médio, eles voltaram a conviver quando ingressaram no mesmo curso, arquitetura, na Universidade Presbiteriana Mackenzie, no Centro da capital paulista.

No entanto, ela afirmou que eles nunca tiveram um vínculo de amizade, afinal eles cursavam períodos diferentes.

"A gente começou a ter contato por conta de uma colega minha, de sala, que também estudava na Zona Norte, né? Todos nós morávamos na Zona Norte. Ela conversou com ele e sugeriu de a gente fazer um esquema de caronas pagas, já que a gente morava perto", falou.

De acordo com a vítima, as caronas duraram apenas seis meses, e se encerraram por incompatibilidade dos horários de trabalho dos dois.

"O Prior não é o tipo de homem que eu me sinto atraída. Eu nunca tive nenhum interesse nele. Ele é uma pessoa que nem como homem nem como amigo me interessa. Ele sempre teve um perfil na faculdade e escola de ofender as pessoas, [fazer] piadas de mau gosto, sabe?"

O crime

Tudo aconteceu na madrugada do dia 8 de agosto de 2014, quando Themis foi com uma amiga a uma festa universitária que antecedia o InterFAU, competição esportiva em que participam turmas da faculdade de Arquitetura e Urbanismo do estado de São Paulo. O evento foi realizado na Cidade Universitária da Universidade de São Paulo (USP).

"Na hora de ir embora, cruzei com o Prior e falei: 'Ah, oi, tudo bem? Mas já estou indo embora'. E ele: 'Ah, também tô indo, você quer uma carona?'. Aí falei: 'Tá bom'. Minha amiga também morava na Zona Norte", relembrou.

A mulher afirmou que não suspeitou de nada, pois já conhecia Prior há bastante tempo e já havia pegado outras caronas com ele.

"A gente estava voltando da festa, ele deixou primeiro a minha amiga na casa dela. Quando a gente estava indo sentido à minha casa, ele parou o carro no meio da rua, desafivelou meu cinto, começou a me beijar. A rua estava muito escura”, contou Themis.

"Começou a tirar minha roupa e, à medida que as coisas iam acontecendo, ele se tornava cada vez mais agressivo comigo? Eu falei 'Felipe, eu não quero, não quero', e ele continuou insistindo, continuou tirando a minha roupa e começou a penetração."

"Cada vez que eu falava que eu não queria, ele se tornava mais agressivo. Eu comecei a tentar resistir fisicamente, e ele começou a puxar meu cabelo. Começava a me segurar pelos braços, me segurar pela cintura. Proferiu umas frases muito... Passaram 9 anos e, tipo... Ele começou a falar para eu parar de me fazer de difícil, que é claro que eu queria, que agora não era hora de falar que não e começou a forçar a penetração”, relatou.

Themis ainda questiona: “Quantas vezes eu preciso falar não para a pessoa entender que ela está me machucando, que ela está me violentando?"

"E aconteceu a laceração, que foi bem doloroso. Eu gritei. Começou a sair muito sangue. E eu comecei a gritar de dor, e aí ele parou imediatamente, falou: 'O quê que é isso?' E eu, tipo, não sabia o que estava acontecendo, estava muito assustada. Só fui pegando minhas roupas e tentando estancar o sangue. Aí ele perguntou se eu queria ir para o hospital. Falei que não, que eu só queria ir para minha casa."

"Ele é muito mais forte que eu. Não tinha como sair dessa situação... De madrugada, bêbada, com pressão baixa, e ele controlando o meu corpo, os meus movimentos, fazendo o que ele queria fazer, sabe? Você só quer que aquela situação acabe", disse.

"[Ver o sangue] foi o susto que ele teve que levar para parar a situação. Fez uma poça de sangue no carro dele, nele. Sinceramente, acho que ele ficou mais preocupado com o carro dele do que comigo. Depois, ele foi para o porta-malas, ficou pegando pano e tentando limpar o carro. Eu tampei minha ferida com as minhas roupas. Eu senti uma dor que eu nunca senti antes."

Após o crime

Quando chegou em casa, Themis conta que foi direto ao banheiro e tentou estancar o sangue sozinha, mas acabou não conseguindo por estar com pressão baixa. "Fui acordar minha mãe e pedi para ela me ajudar. Ela deu uma olhada no machucado, levantou e falou: 'A gente vai para o hospital'."

Quando chegaram na unidade de saúde, a mulher foi atendida por uma médica que afirmou que ela estava com uma laceração grau 1, compatível com fricção de pênis ou introdução de outro objeto na vagina.

"A médica me perguntou diversas vezes. Perguntou para minha mãe o que de fato tinha acontecido. Que lá era um lugar seguro, que eu podia confiar nela, que era necessário falar a verdade, mas eu não quis falar. Falei que tinha sido um namorado. Eu estava com vergonha, medo", falou.

Já no outro dia, Prior mandou uma mensagem para Themis por uma rede social. Ela solicitou a ele que não contasse a ninguém o que havia acontecido. "E a gente nunca mais se falou. Essa foi a última vez que a gente se falou. Na vida", contou.

Após três anos, caiu a ficha: “Ele tinha me estuprado”

"Em 2017, se não me engano, começou um movimento do Me Too, que bombou na internet. Eu comecei a entrar em contato com todos esses relatos, essas denúncias de mulheres, e consegui conversar com as minhas amigas sobre isso. Foi quando caiu a ficha que eu tinha sido estuprada", relembrou Themis.

A vítima conta que foi neste momento que caiu a ficha de que não era sua culpa e nem responsabilidade. “Que eu não tinha feito nada de errado e que ele tinha me estuprado”, complementa.

A denúncia

Em 2020, Felipe Prior participou do BBB e foi o 10° eliminado do Big Brother Brasil. Quando ele apareceu na TV, Themis relata que voltou imediatamente para a madrugada do crime. "Eu tive uma crise de ansiedade esse dia. Eu estava com meu companheiro, que hoje é meu marido. Vi o rosto dele [Prior] pela primeira vez em muitos anos. Tudo o que remetia a ele, eu apaguei da minha vida. E eu vi o rosto dele, aquilo me causou um choque muito grande, um medo de novo."

A decisão de denunciar o ex-BBB após seis anos, aconteceu após receber prints de tuítes de outras mulheres que relataram situações semelhantes a dela, que haviam passado com o arquiteto.

"Parece um absurdo hoje, quando eu olho para trás, pensar que eu achava que eu tinha sido a única pessoa que tivesse passado por isso. Quando vi todos os relatos, as denúncias, aquilo me chocou de tal forma que eu falei: 'Esse cara tem que ser denunciado. Esse cara tem que pagar pelos crimes que ele cometeu", destacou.

Condenação

Felipe Prior foi condenado a seis anos de prisão em regime semiaberto pelo crime de estupro. A decisão foi divulgada no sábado (8) pela juíza Eliana Cassales Tosi Bastos, da 7° Vara Criminal de São Paulo.

Prior foi condenado em primeira instância e pode recorrer em liberdade.

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