REVELAÇÕES
Família de mulher suspeita de levar tio morto ao banco fala pela primeira vez sobre o caso
Família falou sobre relação da suspeita com o tio idoso, revelou o estado de saúde mental da mulher e contou sobre como está sendo para eles
Última atualização: 02/05/2024 12:06
A família de Érika de Souza Vieira Nunes falou pela primeira vez sobre o caso neste domingo (21). A mulher é suspeita de levar o tio idoso morto para sacar um empréstimo de R$ 17 mil em uma agência bancária de Bangu, na zona oeste do Rio, na terça-feira (16).
Ao Fantástico, da Globo, os filhos destacaram a proximidade de Érika com Paulo Roberto Braga, de 68 anos, e esclareceram que ela passava por problemas psiquiátricos.
Érika foi presa em flagrante na agência bancária quando socorristas identificaram que Braga estava morto. Imagens de câmeras de segurança mostram ela se deslocando com o tio imóvel em uma cadeira de rodas até chegar ao local.
Funcionários perceberam a falta de reação do idoso quando a mulher pedia que ele assinasse o documento para o empréstimo. O vídeo, gravado por eles, viralizou em todo País.
O que disse a família
"Minha mãe criou os seis filhos e nunca precisou roubar e enganar ninguém. Minha mãe sempre foi a nossa melhor inspiração", disse Lucas Nunes, filho de Érika ao programa. "É a que mais protegia ele", afirmou uma das familiares, descrevendo que a mulher cuidava do homem.
O irmão da mulher afirmou que estava com ela e o idoso antes de saírem de casa, no dia em que tudo aconteceu. Ele afirmou que Paulo estava vivo e que teria conversado com ele.
A família também apresentou laudos que apontavam quadros de depressão, uso de remédios controlados e indicação para internação psiquiátrica nos últimos anos, em 2022 e 2023.
"A minha mãe vem passando por momentos difíceis, ela tem acompanhamento psicológico. Esse remédio causava alucinações", afirmou o filho falando sobre uma medicação que Érika estava tomando.
Por fim, ele pediu compreensão. "Gostaria que as pessoas fossem mais sensíveis com a situação que nós estamos vivendo". "Estamos enfrentando a perda do nosso tio e esse grande mal entendido com a nossa mãe."
O empréstimo
Ainda, os parentes confirmaram que havia sido o idoso que fez o empréstimo e que o dinheiro seria usado para melhorar o local onde vivia desde que não pode mais subir ou descer escadas.
Ele dormia em um cômodo de paredes sem reboco ou pintura, também não tendo piso. No local, havia apenas um vaso sanitário solto, uma cama, e alguns móveis pequenos, como uma mesa de plástico e uma estante.
Paulo começou a receber um benefício do governo federal para idosos em agosto de 2023, no valor de um salário mínimo. Já o empréstimo seria pago em 7 anos, em 84 parcelas de R$ 423,50.
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Suspeita de fraude
Já a polícia acredita que Érika tentou cometer uma fraude bancária usando o tio morto para sacar o empréstimo.
O delegado Fábio Souza, responsável pelo caso, indicou que a mulher tentou fazer crer que o homem estava vivo ao conversar com ele, mesmo sem receber nenhuma resposta. Ela foi indiciada por furto mediante fraude e vilipêndio a cadáver.
"Uma pessoa que tem problema psiquiátrico pode não entender que o tio está morto, mas, certamente, ela também não ia entender que tinha que pegar o dinheiro. A pessoa não pode ter uma consciência seletiva", rebateu o delegado responsável pelo caso ao programa da Globo.
A defesa dela reconhece a situação, mas vê esse momento de conversa com o tio como um sinal de "negação" diante do que acabara de acontecer. "Ela não aceitou que ele poderia estar desfalecido", disse a advogada Ana Carla de Souza Correa. "Gostaria que as pessoas fossem mais sensíveis", reforçou o filho.
Prisão mantida
Na última quinta-feira (18), a Justiça manteve a prisão de Érika. A juíza Rachel Assad da Cunha atendeu o MP-RJ e afirmou que, pelo que se percebe nos vídeos, quem queria fazer o empréstimo era Érika, embora o dinheiro não pertencesse a ela.
Registrou ainda que a presa parecia mais preocupada com o empréstimo do que com a saúde do tio e que a possibilidade de ter levado o tio já morto ao banco "torna a ação mais repugnante e macabra".
"O ponto central dos fatos não se resume em buscar o momento exato da morte, informação que sequer o exame de necropsia conseguiu apontar", afirmou. "A questão é definir se o idoso, naquelas condições, mesmo que vivo estivesse, poderia expressar a sua vontade."
"Se já estava morto, por óbvio, não seria possível. Mas ainda que vivo estivesse, era notório que não tinha condições de expressar vontade alguma, estando em total estado de incapacidade", disse.
A juíza continua explicando que "portanto, ainda que se alegue não ter a custodiada percebido a sua morte e não ser possível estabelecer o momento exato em que ela teria ocorrido, certo é que o idoso não respondia a qualquer estímulo, o que pode ser notado nos vídeos".
"Assim, não era possível ao Sr. Paulo, seja pelo motivo que fosse, assentir com o empréstimo, tudo a indicar que a vontade ali manifestada era exclusiva da custodiada, voltada a obter dinheiro que não lhe pertencia, mantendo, portanto, a ilicitude da conduta, ainda que o idoso estivesse vivo em parte do tempo", concluiu.