MACONHA MEDICINAL
Falta de regulamentação da cannabis é omissão dolosa, diz especialista
Entenda fala de ex-presidente do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais sobre regulamentação da maconha para uso medicinal
Última atualização: 23/11/2024 20:40
A falta de regulamentação da cannabis é uma omissão dolosa. A síntese é do advogado Cristiano Maronna, especializado em cannabis law e políticas sobre drogas no Brasil.
Ele ajuda a divulgar as atividades da Federação das Associações de Cannabis Terapêutica (Fact) na ExpoCannabis, que aconteceu neste mês, em São Paulo.
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Ex-presidente do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCrim), Maronna cita o Artigo 2º da Lei nº 11.343/2006, que instituiu o Sistema Nacional de Políticas Públicas Sobre Drogas. Esse artigo diz que a União pode autorizar o plantio, a cultura e a colheita de plantas psicoativas para fins medicinais ou científicos.
O advogado lembra que há cerca de 20 anos existe no mundo um debate sobre a necessidade de uma transição do modelo repressivo para o modelo regulatório em relação a substâncias como o álcool e o tabaco.
"E, no Brasil, a gente vê que essa discussão ainda está muito atrasada", opina. "Apesar de a maconha ser proibida para uso adulto, na prática já há todo um ecossistema criado em torno dela", acrescenta.
Maronna afirma que a "zona cinzenta" formada pela ausência de regulamentação faz com que muitas associações dedicadas a facilitar o acesso à cannabis terapêutica sejam acusadas de cometer crimes.
Isso devido ao fato de que iniciam, muitas vezes, o cultivo antes de obter autorização formal. "Existe um estigma. Como a maconha sempre foi considerada uma droga ilícita, o estigma de criminoso sempre esteve associado à planta", assinala.
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Farmacêutico clínico do Instituto CuraPro, Deusdete de Almeida conta que a entidade, sediada em São Paulo, está com a estufa de cannabis parada à espera de autorização.
Ele explica que o que tem sido feito para garantir que permaneça dentro da lei e em funcionamento é encontrar salvaguarda em habeas corpus dos pacientes, enquanto a organização não consegue os próprios.
"Temos nosso sítio em Jundiaí e estamos brigando para fazer o cultivo e atender o maior número de pacientes. Já tivemos algumas safras e estamos aguardando autorização para termos outras", afirma.
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Almeida tem um exemplo próximo da eficácia da cannabis. Seu sobrinho tem autismo e Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), condições que atrapalhavam a aprendizagem na escola e a interação social.
"Até os seis anos, ele não falava e era muito agitado", revela o farmacêutico, ressaltando que houve um "progresso fantástico" com um ano de uso da cannabis. "Hoje, está falando e interagindo melhor com outras crianças. E já está pedindo para ir à escola, algo que era impossível para ele", observa.
Uma das possíveis consequências do proibicionismo é destacada no Relatório Mundial sobre Drogas 2023 do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodoc): a de que pacientes que enfrentam muitos obstáculos para ter acesso às substâncias, por falta de estruturas bem projetadas e devidamente pesquisadas, podem recorrer a mercados ilegais.
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Encarceramento em massa
Com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de descriminalizar o porte de maconha para uso pessoal, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) decidiu incluir os novos parâmetros no Mutirão Processual Penal de 2024.
De 1º a 30 de novembro, o mutirão acontece nos tribunais de Justiça e tribunais regionais federais do país, agora com o novo limite para a maconha: até 40 gramas ou seis pés de cannabis.
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De acordo com o Sistema Nacional de Informações Penais (Sisdepen), 205.159 presos atualmente foram acusados de crimes relacionados ao tráfico de drogas.
Desse total, 173.064 foram enquadrados por suposto envolvimento com o tráfico, 25.713 por suposta associação para o tráfico e 6.382 por tráfico internacional de drogas.
A população carcerária é de 663.387 pessoas no sistema penitenciário e 4.664 em celas físicas de carceragens como a da Polícia Civil e da Polícia Militar.