Eles merecem

Empresa tem faturamento milionário fazendo "comida humana" para pets

Refeições contam com arroz, carne, cenoura e abóbora, entre outros.

Publicado em: 08/07/2024 14:52
Última atualização: 08/07/2024 14:52

Uma empresa de São Paulo inovou no ramo dos produtos para pets. Fundada em 2020, a startup A Quinta criou um produto de alimentação para animais feito exclusivamente de comidas que humanos também consomem, como arroz, carne, cenoura e abóbora, entre outros.


Cachorro Foto: Wirestock/Freepik

A startup brasileira adota um slogan para traduzir o conceito: "Tão natural que até você pode comer". O empreendimento pet começou a nascer em uma visita que o empreendedor Tiago Tresca fez ao seu irmão Diego em São Paulo, em 2019.

Na época, Tiago percebeu o aquecido mercado de animais de estimação e decidiu investir nele. Tiago morava em Portugal.

Lá, iniciou estudos em arquitetura, mas descobriu que sua verdadeira paixão era empreender, especialmente com tecnologia.

Ele fundou uma desenvolvedora de softwares e, em 2017, lançou uma rede de restaurantes de produtos naturais, um fast-food saudável que, em dois anos, cresceu para dez lojas.

Foi essa experiência com alimentação e tecnologia que trouxe Tiago ao Brasil em 2019 para visitar seu irmão. "Conversamos sobre o mercado pet e eu me apaixonei. Decidi ficar no Brasil e empreender aqui", explicou.

Em 2023, a empresa faturou R$ 2,2 milhões e projeta alcançar R$ 10 milhões em 2024.

Tendência no exterior

Tiago estudou mercados fora do Brasil e descobriu a tendência human grade nos Estados Unidos, que envolve alimentar os pets com comida que poderia ser consumida por humanos.

"Começamos a estudar esse mercado, e o que achei mais interessante foi o segmento de ?comida de verdade?. Você vê o arroz, a carne. É a humanização levada ao extremo."

Nos meses seguintes, Tiago e sua equipe estudaram o mercado para entender se havia demanda no Brasil. Em 2020, A Quinta foi fundada, e a operação começou com uma rodada pré-operacional, que avaliou a empresa em 2,5 milhões de reais, possibilitando seu lançamento ao mercado em 2021.

"Quando estudamos o setor, vimos muitas empresas copiando o formato dos alimentos congelados dos Estados Unidos. O Brasil não estava, e ainda não está, pronto para esse modelo devido à sua ineficiência logística", avalia Tiago.

"É muito difícil os petshops aceitarem esse tipo de produto, pois, sendo congelado, a duração é de seis meses. Isso demanda uma logística complexa, e cada loja precisa ter um refrigerador, o que aumenta os custos. Ali estava nossa oportunidade."

A solução foi criar um produto que não precisa ser armazenado no congelador. Segundo a empresa, como alternativa a isso, os ingredientes são separados, higienizados e pré-preparados individualmente, envasados numa embalagem transparente com várias barreiras protetoras, com selagem de alto impacto e processados no vapor.

"O processo térmico elimina microorganismos patogênicos presentes na comida, garantindo assim a segurança total do alimento, além de alta palatabilidade e sem necessidade de refrigeração", destacou Tiago.

"Todos os produtos possuem durabilidade de até 12 meses a partir da data de fabricação e não necessitam de refrigeração. Após aberto conservar em geladeira por no máximo 72 horas."

Chegada aos pet shops

A Quinta começou a chegar aos pet shops em 2021, inicialmente em 50 pontos em São Paulo e região. Simultaneamente, lançaram um plano de assinatura que totalizou 140 clientes em 2022.

O crescimento acelerado veio no ano passado, com a entrada de Michel Mellis, ex-diretor de Transformação Global da Unilever, como membro do conselho.

Ele investiu na empresa, avaliando-a em R$ 10 milhões, o que possibilitou a aceleração de assinaturas de entrega de comida. Hoje, são 680 assinantes, com previsão de chegar a 1.500 até o final do ano. Os pontos de venda somam 500 atualmente.

A assinatura mensal custa a partir de R$ 95. O pacote avulso de 300g custa R$ 24,50. O ticket médio de vendas é de R$ 450.

Dietas

A linha de produtos foi desenhada para seis tipos de dieta para cães adultos e idosos. Três deles são dietas de manutenção, como risoto suíno com abóbora e picadinho de frango.

As outras são dietas dirigidas a necessidades especiais, para cães com restrições alimentares ou doenças.

Ao ser questionado se realmente um humano pode comer os produtos da Quinta, Tiago afirmou que sim. "Podem, porque é tudo que um humano pode comer, mas pode ser que não seja gostoso, porque não tem tempero igual as nossas comidas geralmente têm, mas podemos sim colocar um tempero e comer, não tem problema."

Cuidado nutricional

A zootecnista Angelica Kischener, mestre em nutrição de cães e gatos, diz que há diversos benefícios da alimentação natural para pets, destacando pontos cruciais que devem ser considerados para garantir a saúde e o bem-estar dos animais.

"Na verdade, a alimentação natural tem vários benefícios, porém, há um detalhe muito importante: se esse alimento está sendo bem formulado ou não, se ele está atendendo ao requerimento nutricional ou não."

Nos dias de hoje, muitos profissionais sem a devida capacitação utilizam metodologias sem validação científica. Isso resulta em atendimentos que não garantem a nutrição adequada, tanto para donos de pets quanto para empresas de alimentação natural. "Esse é um ponto bem importante de se levantar."

Se esses requisitos forem cumpridos, a alimentação natural pode trazer vários benefícios. Um dos principais é a possibilidade de customizar dietas para animais com comorbidades.

"Por exemplo, um animal que é obeso e tem problemas renais. Não há no mercado uma ração específica para esse problema, mas na dieta caseira, podemos controlar a inclusão dos alimentos e desenvolver uma fórmula adequada para essa situação", explicou Kischener.

Embora não seja uma solução perfeita, é possível criar uma formulação que não prejudique um problema enquanto ajuda a tratar outro.

Outro ponto importante mencionado por Kischener é a umidade do alimento. As dietas caseiras e a alimentação natural têm uma umidade muito maior em comparação às rações secas, que possuem de 8% a 10% de umidade.

Nas dietas caseiras, a umidade pode chegar a 75%, o que alivia muito o sistema renal dos animais, especialmente dos gatos. "Para gatos, isso é muito mais importante", afirma.

Além disso, Kischener destaca a superioridade na digestibilidade dos alimentos naturais. "Nos alimentos caseiros, nas dietas ditas naturais, a absorção dos nutrientes é muito superior à dos alimentos industrializados. Isso acaba sendo muito benéfico para o animal e muito visível", explica Kischener.

 

 

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