VACINA A CAMINHO

DENGUE: Entenda como funciona a vacina contra a doença e que será utilizada no SUS

Primeiras doses do imunizante chegaram no fim de semana ao Brasil e deverão ser destinadas para crianças e adolescentes inicialmente

Publicado em: 23/01/2024 16:15
Última atualização: 23/01/2024 17:28

As primeiras 720 mil doses de vacina contra a dengue que serão aplicadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) já estão no Brasil. Batizadas com o nome de Qdenga, elas foram cedidas gratuitamente pelo laboratório japonês Takeda Pharma, que ainda deve enviar mais 600 mil doses, totalizando 1,32 milhão.


Estratégia de vacinação contra a dengue é definida pelo Ministério da Saúde Foto: Rogério Vidmantas/Prefeitura de Dourados/Ag Brasil

Juntamente com mais 5,2 milhões de doses já comprados pelo governo federal e que serão entregues ao longo do ano, o país terá à disposição um total de 6,52 milhões de doses, um número limitado, mas que conseguirá imunizar cerca de 3,2 milhões de pessoas ao longo de 2024, pois o esquema vacinal exige a aplicação de duas doses, com intervalo mínimo de 90 dias entre elas.

Essa limitação de doses se dá pela capacidade de produção do próprio laboratório, e em razão disso, a estratégia do Ministério da Saúde (MS), deve adotar como estratégia a vacinação de pessoas que vivem em municípios de grande porte com alta transmissão nos últimos dez anos e população residente igual ou maior a 100 mil habitantes, levando também em conta altas taxas nos últimos meses.

O público-alvo, em 2024, conforme o MS, serão crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, faixa etária que concentra o maior número de hospitalização por dengue, depois de pessoas idosas, grupo para o qual a vacina não foi liberada pela Anvisa. "A vacina será uma ferramenta importantíssima em evitar principalmente casos graves, é uma aquisição muito importante, uma medida muito acertada do ponto de vista populacional", avalia o pró-reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Extensão da Universidade Feevale, Fernando Spilki.

Como funciona a Qdenga

Qdenga não é uma novidade no Brasil, já que a vacina é oferecida na rede privada de saúde do país desde julho do ano passado. A imunização completa na rede privada pode custar até mais de R$ 900. 

A Qdenga é composta por quatro sorotipos distintos. Com eficiência prometida de 80,2% no combate à dengue, o período de proteção é de 12 meses após a segunda dose. “Temos quatro genótipos de dengue, o mais comum que provocou a maioria dos casos dos surto de dengue do ano passado e desse ano, que está ocorrendo agora aqui no estado, que é a dengue tipo 1”, explica Spilki.

O sistema de tecnologia utilizado pela Qudenga consiste na aplicação do vírus atenuado, assim a vacina traz o vírus da dengue modificado de forma a infectar, mas não causar a doença, uma forma bastante comum na aplicação desse tipo de imunizante que visa combater uma doença viral.

Devido a este formato, ela não é indicada para gestantes, lactantes, pessoas com algum tipo de imunodeficiência ou sob algum tratamento imunossupressor. Por esse motivo, a Anvisa ainda não aprovou a aplicação em idosos, que poderiam desenvolver a doença por terem imunidade mais baixa.

Além da Qdenga, a rede privada de saúde também tem a disposição também a Dengvaxia, essa que só pode ser aplicada em pessoas que já tiveram dengue. Além dessas duas, o Instituto Butantan chegou à fase final da elaboração de sua vacina, que já passou por três fases exigidas para a produção de imunizantes, e até o momento apresentou uma eficácia de 79,6%. A pesquisa brasileira é realizada desde 2009, sendo que apenas a fase 3 está sendo desenvolvida desde 2016, e a expectativa é que até o fim de 2024 seja concluído.

Por que o governo comprou a vacina?

Influenciado pela alta nos casos de dengue, o Ministério da Saúde decidiu trazer para o país a vacina japonesa para ser distribuída gratuitamente. Até o dia 8 de dezembro de 2023 os casos aumentaram 15,8% ao longo do ano. Nessas primeiras semanas de 2024, os registros já são mais que o dobro do registrado no mesmo período do ano passado. Até o dia 20, o país já totalizava 55,8 mil casos com registro de seis mortes.

No Rio Grande do Sul, o ano de 2023 encerrou com 38,5 mil casos confirmados, causando 54 mortes. Nas primeiras semanas de janeiro, a Secretaria de Saúde (SES) já tinha o registro de 721 casos, sem nenhuma morte. A SES aguarda ainda a definição do MS sobre a estratégia de imunização que será aplicada no Estado.

Importância da vacina

É o cenário de alta nos casos que serve de alerta para que a população não deixe de se vacinar, como forma de evitar as situações mais graves que podem levar à morte.

Temoroso em razão dos discursos antivacina que ganharam corpo ao longo da pandemia de Covid-19, Spilki diz torcer para que o cenário não se repita. "Tomara que essa decisão não racional, uma decisão desinformada de não se vacinar ou não vacinar as crianças, não contamine também essa vacinação que está entrando.”

O professor lembra que, diferente do caso da Covid na qual a vacina foi produzida de forma bastante rápida, o imunizante contra a dengue já é estudado há muitos anos. “As pessoas têm noção de que é importante aderir a esses programas. A vacina foi amplamente testada, já estamos na segunda geração de vacinas para dengue e são vacinas extremamente testadas, discutidas dentro da comunidade científica, sobre as quais reside aí uma certeza em relação à segurança”, garante Spilki.

Sem descuidar da prevenção

Mesmo com a vacinação, o melhor cuidado contra a dengue e outras doenças que são transmitidas pelo Aedes aegypti é a prevenção, já que o inseto também é transmissor de outras doenças graves como chikungunya e Zika.

Por isso, evitar o acúmulo de água parada e limpa é fundamental para evitar que o mosquito ponha seus ovos e consiga se reproduzir. Reduzir a população e a circulação do Aedes é a melhor forma de evitar novos surtos de dengue.

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