As primeiras 720 mil doses de vacina contra a dengue que serão aplicadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) já estão no Brasil. Batizadas com o nome de Qdenga, elas foram cedidas gratuitamente pelo laboratório japonês Takeda Pharma, que ainda deve enviar mais 600 mil doses, totalizando 1,32 milhão.
Juntamente com mais 5,2 milhões de doses já comprados pelo governo federal e que serão entregues ao longo do ano, o país terá à disposição um total de 6,52 milhões de doses, um número limitado, mas que conseguirá imunizar cerca de 3,2 milhões de pessoas ao longo de 2024, pois o esquema vacinal exige a aplicação de duas doses, com intervalo mínimo de 90 dias entre elas.
Essa limitação de doses se dá pela capacidade de produção do próprio laboratório, e em razão disso, a estratégia do Ministério da Saúde (MS), deve adotar como estratégia a vacinação de pessoas que vivem em municípios de grande porte com alta transmissão nos últimos dez anos e população residente igual ou maior a 100 mil habitantes, levando também em conta altas taxas nos últimos meses.
O público-alvo, em 2024, conforme o MS, serão crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, faixa etária que concentra o maior número de hospitalização por dengue, depois de pessoas idosas, grupo para o qual a vacina não foi liberada pela Anvisa. “A vacina será uma ferramenta importantíssima em evitar principalmente casos graves, é uma aquisição muito importante, uma medida muito acertada do ponto de vista populacional”, avalia o pró-reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Extensão da Universidade Feevale, Fernando Spilki.
Como funciona a Qdenga
Qdenga não é uma novidade no Brasil, já que a vacina é oferecida na rede privada de saúde do país desde julho do ano passado. A imunização completa na rede privada pode custar até mais de R$ 900.
A Qdenga é composta por quatro sorotipos distintos. Com eficiência prometida de 80,2% no combate à dengue, o período de proteção é de 12 meses após a segunda dose. “Temos quatro genótipos de dengue, o mais comum que provocou a maioria dos casos dos surto de dengue do ano passado e desse ano, que está ocorrendo agora aqui no estado, que é a dengue tipo 1”, explica Spilki.
O sistema de tecnologia utilizado pela Qudenga consiste na aplicação do vírus atenuado, assim a vacina traz o vírus da dengue modificado de forma a infectar, mas não causar a doença, uma forma bastante comum na aplicação desse tipo de imunizante que visa combater uma doença viral.
Devido a este formato, ela não é indicada para gestantes, lactantes, pessoas com algum tipo de imunodeficiência ou sob algum tratamento imunossupressor. Por esse motivo, a Anvisa ainda não aprovou a aplicação em idosos, que poderiam desenvolver a doença por terem imunidade mais baixa.
Além da Qdenga, a rede privada de saúde também tem a disposição também a Dengvaxia, essa que só pode ser aplicada em pessoas que já tiveram dengue. Além dessas duas, o Instituto Butantan chegou à fase final da elaboração de sua vacina, que já passou por três fases exigidas para a produção de imunizantes, e até o momento apresentou uma eficácia de 79,6%. A pesquisa brasileira é realizada desde 2009, sendo que apenas a fase 3 está sendo desenvolvida desde 2016, e a expectativa é que até o fim de 2024 seja concluído.
Por que o governo comprou a vacina?
Influenciado pela alta nos casos de dengue, o Ministério da Saúde decidiu trazer para o país a vacina japonesa para ser distribuída gratuitamente. Até o dia 8 de dezembro de 2023 os casos aumentaram 15,8% ao longo do ano. Nessas primeiras semanas de 2024, os registros já são mais que o dobro do registrado no mesmo período do ano passado. Até o dia 20, o país já totalizava 55,8 mil casos com registro de seis mortes.
No Rio Grande do Sul, o ano de 2023 encerrou com 38,5 mil casos confirmados, causando 54 mortes. Nas primeiras semanas de janeiro, a Secretaria de Saúde (SES) já tinha o registro de 721 casos, sem nenhuma morte. A SES aguarda ainda a definição do MS sobre a estratégia de imunização que será aplicada no Estado.
Importância da vacina
É o cenário de alta nos casos que serve de alerta para que a população não deixe de se vacinar, como forma de evitar as situações mais graves que podem levar à morte.
LEIA TAMBÉM
Temoroso em razão dos discursos antivacina que ganharam corpo ao longo da pandemia de Covid-19, Spilki diz torcer para que o cenário não se repita. “Tomara que essa decisão não racional, uma decisão desinformada de não se vacinar ou não vacinar as crianças, não contamine também essa vacinação que está entrando.”
O professor lembra que, diferente do caso da Covid na qual a vacina foi produzida de forma bastante rápida, o imunizante contra a dengue já é estudado há muitos anos. “As pessoas têm noção de que é importante aderir a esses programas. A vacina foi amplamente testada, já estamos na segunda geração de vacinas para dengue e são vacinas extremamente testadas, discutidas dentro da comunidade científica, sobre as quais reside aí uma certeza em relação à segurança”, garante Spilki.
Sem descuidar da prevenção
Mesmo com a vacinação, o melhor cuidado contra a dengue e outras doenças que são transmitidas pelo Aedes aegypti é a prevenção, já que o inseto também é transmissor de outras doenças graves como chikungunya e Zika.
Por isso, evitar o acúmulo de água parada e limpa é fundamental para evitar que o mosquito ponha seus ovos e consiga se reproduzir. Reduzir a população e a circulação do Aedes é a melhor forma de evitar novos surtos de dengue.