PLURALIDADE
Concursos de beleza adotam regras mais flexíveis em prol da diversidade
Competições quebram padrões e abrem espaço para novos perfis, mas caminho para superação do preconceito ainda é longo
Última atualização: 05/03/2024 07:47
Criado na década de 1950, o Miss Universo é ainda hoje um dos principais concursos de beleza do planeta. Em seu princípio, o evento era conhecido pela rigidez quase militar nas regras, impondo um padrão bastante restrito de beleza às concorrentes.
Passadas mais de sete décadas desde as primeiras competições, algumas regras foram mudando, permitindo assim que diferentes perfis pudessem competir. Neste ano, por exemplo, pela primeira vez, a competição permitirá a participação de mulheres casadas e com filhos.
Duas candidatas com esse perfil disputarão a etapa gaúcha do concurso, a moradora de Taquara Vitoria de Brito Liskoski e a representante de Torres Natália Suyan. Mulheres transgênero já podem competir desde 2013, mas neste ano o Brasil tem sua primeira candidata trans.
Bethina Marcante, que foi eleita Miss São Borja em 2019 e segue com o título até hoje, disputará a competição de Miss Universo Brasil. Todas essas mudanças consideram o papel desses concursos na formação de padrões de beleza.Olhando para o histórico dos vencedores do concurso de Miss Universo, questões como etnia e cor foram superadas até com mais agilidade do que em outros setores sociais. Já em 1957, cinco anos após a primeira edição, a vencedora foi uma latino-americana, a peruana Gladys Zender.
A japonesa Akiko Kojima foi a vencedora em 1959, sendo a primeira asiática eleita. Demorou mais, contudo, para que a eleita fosse uma mulher negra, o que veio a ocorrer apenas em 1977 com Janelle Commissiong, natural de Trinidad e Tobago, país do Caribe.
Professora do curso de Moda da Universidade Feevale, Marina Seibert Cezar avalia que os concursos de beleza buscam impor padrões de beleza, e mesmo de comportamento, seguindo um entendimento social sobre as mulheres. "Esses concursos de beleza foram mais um indício de como a sociedade entende o feminino."
Marina lembra que esse olhar sobre a beleza e o corpo feminino deriva de uma sociedade profundamente marcada pela decisão masculina. "Como temos uma sociedade muito masculinizada, então faz sentido eventos assim para apreciação do olhar masculino, o que precisa ser padronizado. A ideia da padronização facilita esse olhar estético."
Padrões em mudança
Essa padronização é, na avaliação de Marina, um reflexo dos entendimentos sociais de um modelo de felicidade, por isso está sempre em mudança. “Em momentos de escassez o belo era esse corpo corpulento, com gordura, porque era dificílimo manter esse tipo de corpo. O padrão de beleza (hoje) é ser fitness, acordar às 6 horas da manhã, fazer yoga, ser feliz comendo um abacate”, exemplifica Marina.
Apesar de o padrão ser sempre algo inatingível, Marina avalia que as mudanças nas regras de concursos de beleza funcionam como um bom farol para ampliar a aceitação social de diferentes pessoas. “A gente sempre está trocando um (padrão) pelo outro, mas se a gente conseguir, ao menos, abrir um pouco mais e criar mais padrões, acho que conseguimos ter um fôlego social maior.”
Reflexos e impactos sociais
Para Bethina Marcante, disputar o Miss Universo é um sonho alimentado desde a infância quando assistia ao concurso pela televisão. As mudanças nos regramentos do Miss Brasil permitiram que participasse. “O concurso vem se atualizando, acredito que daqui a alguns anos teremos outras mudanças como a idade”, destaca ela, ao lembrar que o concurso mantém uma regra que impede mulheres acima dos 28 anos de disputarem.
Representante de São Borja, Bethina vive hoje em Novo Hamburgo, cidade pela qual se diz encantada. Arquiteta de formação, ela divide a intensa rotina de preparação para miss com o trabalho de gerente de banco na cidade.
Adaptação aos novos tempos e debate
Bebeto Azevedo, coordenador do Miss Universo no RS, aponta que as mudanças de regras eram inevitáveis, já que a competição precisava se adequar aos novos tempos. “Eles tinham um regramento muito militar, altura, peso, cobrava muitos desses referenciais em torno de estética e beleza física, mas aos poucos foi mudando.”
Azevedo ressalta como um evento que, para alguns setores da sociedade, pode ser visto como trivial e banal terá um papel importante em discussões profundas. “Estamos tendo que repensar, através de um concurso de beleza, que toda essa diversidade de tipos físicos deve estar na passarela.”
Otimista, Azevedo acredita que o Miss Universo poderá pautar e ampliar o debate fora das passarelas. “Em algum momento muitas mulheres não se viam representadas nas candidatas. O concurso precisava se adequar às novas posturas, ao comportamento feminino das mulheres do nosso tempo.”
Criado na década de 1950, o Miss Universo é ainda hoje um dos principais concursos de beleza do planeta. Em seu princípio, o evento era conhecido pela rigidez quase militar nas regras, impondo um padrão bastante restrito de beleza às concorrentes.
Passadas mais de sete décadas desde as primeiras competições, algumas regras foram mudando, permitindo assim que diferentes perfis pudessem competir. Neste ano, por exemplo, pela primeira vez, a competição permitirá a participação de mulheres casadas e com filhos.
Duas candidatas com esse perfil disputarão a etapa gaúcha do concurso, a moradora de Taquara Vitoria de Brito Liskoski e a representante de Torres Natália Suyan. Mulheres transgênero já podem competir desde 2013, mas neste ano o Brasil tem sua primeira candidata trans.
Bethina Marcante, que foi eleita Miss São Borja em 2019 e segue com o título até hoje, disputará a competição de Miss Universo Brasil. Todas essas mudanças consideram o papel desses concursos na formação de padrões de beleza.Olhando para o histórico dos vencedores do concurso de Miss Universo, questões como etnia e cor foram superadas até com mais agilidade do que em outros setores sociais. Já em 1957, cinco anos após a primeira edição, a vencedora foi uma latino-americana, a peruana Gladys Zender.
A japonesa Akiko Kojima foi a vencedora em 1959, sendo a primeira asiática eleita. Demorou mais, contudo, para que a eleita fosse uma mulher negra, o que veio a ocorrer apenas em 1977 com Janelle Commissiong, natural de Trinidad e Tobago, país do Caribe.
Professora do curso de Moda da Universidade Feevale, Marina Seibert Cezar avalia que os concursos de beleza buscam impor padrões de beleza, e mesmo de comportamento, seguindo um entendimento social sobre as mulheres. "Esses concursos de beleza foram mais um indício de como a sociedade entende o feminino."
Marina lembra que esse olhar sobre a beleza e o corpo feminino deriva de uma sociedade profundamente marcada pela decisão masculina. "Como temos uma sociedade muito masculinizada, então faz sentido eventos assim para apreciação do olhar masculino, o que precisa ser padronizado. A ideia da padronização facilita esse olhar estético."
Padrões em mudança
Essa padronização é, na avaliação de Marina, um reflexo dos entendimentos sociais de um modelo de felicidade, por isso está sempre em mudança. “Em momentos de escassez o belo era esse corpo corpulento, com gordura, porque era dificílimo manter esse tipo de corpo. O padrão de beleza (hoje) é ser fitness, acordar às 6 horas da manhã, fazer yoga, ser feliz comendo um abacate”, exemplifica Marina.
Apesar de o padrão ser sempre algo inatingível, Marina avalia que as mudanças nas regras de concursos de beleza funcionam como um bom farol para ampliar a aceitação social de diferentes pessoas. “A gente sempre está trocando um (padrão) pelo outro, mas se a gente conseguir, ao menos, abrir um pouco mais e criar mais padrões, acho que conseguimos ter um fôlego social maior.”
Reflexos e impactos sociais
Para Bethina Marcante, disputar o Miss Universo é um sonho alimentado desde a infância quando assistia ao concurso pela televisão. As mudanças nos regramentos do Miss Brasil permitiram que participasse. “O concurso vem se atualizando, acredito que daqui a alguns anos teremos outras mudanças como a idade”, destaca ela, ao lembrar que o concurso mantém uma regra que impede mulheres acima dos 28 anos de disputarem.
Representante de São Borja, Bethina vive hoje em Novo Hamburgo, cidade pela qual se diz encantada. Arquiteta de formação, ela divide a intensa rotina de preparação para miss com o trabalho de gerente de banco na cidade.
Adaptação aos novos tempos e debate
Bebeto Azevedo, coordenador do Miss Universo no RS, aponta que as mudanças de regras eram inevitáveis, já que a competição precisava se adequar aos novos tempos. “Eles tinham um regramento muito militar, altura, peso, cobrava muitos desses referenciais em torno de estética e beleza física, mas aos poucos foi mudando.”
Azevedo ressalta como um evento que, para alguns setores da sociedade, pode ser visto como trivial e banal terá um papel importante em discussões profundas. “Estamos tendo que repensar, através de um concurso de beleza, que toda essa diversidade de tipos físicos deve estar na passarela.”
Otimista, Azevedo acredita que o Miss Universo poderá pautar e ampliar o debate fora das passarelas. “Em algum momento muitas mulheres não se viam representadas nas candidatas. O concurso precisava se adequar às novas posturas, ao comportamento feminino das mulheres do nosso tempo.”
Passadas mais de sete décadas desde as primeiras competições, algumas regras foram mudando, permitindo assim que diferentes perfis pudessem competir. Neste ano, por exemplo, pela primeira vez, a competição permitirá a participação de mulheres casadas e com filhos.
Duas candidatas com esse perfil disputarão a etapa gaúcha do concurso, a moradora de Taquara Vitoria de Brito Liskoski e a representante de Torres Natália Suyan. Mulheres transgênero já podem competir desde 2013, mas neste ano o Brasil tem sua primeira candidata trans.