Há hoje, no Brasil, o que pode ser considerada uma corrida em busca da chancela da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) para a criação de geoparques no País. São cerca de 30 projetos em andamento, inclusive um de São Paulo, que espera obter o reconhecimento da proposta do Geoparque Corumbataí, no interior. Duas candidaturas, no entanto, estão mais adiantadas no País: as dos geoparques Chapada dos Guimarães e Uberaba Terra de Gigantes. Atualmente, o Brasil possui cinco geoparques chancelados na Unesco.
Geoparques são territórios reconhecidos pela Unesco como regiões mais amplas, que possuem importância científica, cultural, paisagística, geológica, arqueológica, paleontológica e histórica. Além de conseguirem combinar conservação com desenvolvimento sustentável. Por isso, eles não têm relação com parques comuns. É preciso, além dos atrativos e patrimônio geológico, unir aspectos patrimoniais naturais, culturais e imateriais da área.
Os geoparques Chapada dos Guimarães e Uberaba Terra de Gigantes já são reconhecidos como “Aspirantes”. Isso significa que receberam avaliadores que analisaram a aderência aos critérios estabelecidos e agora aguardam as últimas etapas do processo para alcançar o prestigiado título de Geoparque Mundial.
Localizado na região centro-sul do Mato Grosso, o Geoparque Aspirante Chapada dos Guimarães possui uma área de 1.149 km². Abriga algumas nascentes de rios formadores do Pantanal e se destaca por formações rochosas, fósseis e aquíferos, incluindo o Guarani. Além da diversidade geológica, o território concentra grande riqueza gastronômica, cultural e histórica. A paisagem mais conhecida é a Cachoeira do Véu de Noiva, de 86 metros.
Caiubi Kuhn, geólogo e coordenador científico do geoparque, defende que as unidades da Chapada dos Guimarães concentram importantes esforços no turismo, educação e geoconservação. “Isso possibilita desenvolvimento de gestões territoriais que conciliam a preservação dos elementos com desenvolvimento sustentável para a população”, destaca.
A conservação ambiental e a participação da comunidade estão entre os pilares exigidos pela Unesco para reconhecimento dos territórios. A organização exige que os espaços chancelados sejam geridos de forma integrada, envolvendo as comunidades locais, pesquisadores e órgãos governamentais. O objetivo é preservar e promover a valorização do patrimônio geológico e cultural, além de fomentar o turismo sustentável nas regiões.
O Geoparque Aspirante Uberaba Terra de Gigantes tem aproximadamente 4.540 km² de extensão. Localizado no Triângulo Mineiro, tem como destaque os fósseis de dinossauros. Além disso, os geossítios Peirópolis, Caieira e Caieira do Meio e a riqueza de espécies na fauna e flora são pontos fortes do território que é coberto pelo bioma Cerrado.
Outro ponto que Uberaba Terra de Gigantes destaca como importante para convencer a Unesco é a integração com a população da região, já que um geoparque contribui em diversas frentes, movimentando a economia, educação e preservação ambiental. “Conhecendo e tendo orgulho desse patrimônio, as pessoas são protagonistas no processo de preservação ambiental”, diz Thiago Marinho, coordenador científico do geoparque aspirante.
Aprovado o projeto em todas as etapas, finalmente é conferido o status de Geoparque Mundial da Unesco. A designação de geoparque, no entanto, é concedida por um período de apenas quatro anos. Após esse tempo, o funcionamento e a qualidade do geoparque são reexaminados em um processo de revalidação da chancela.
Os cinco geoparques do Brasil são: Araripe (sul do Ceará, noroeste de Pernambuco e leste do Piauí), Caçapava do Sul (Rio Grande do Sul), Quarta Colônia (Rio Grande do Sul), Seridó (Rio Grande do Norte) e Caminhos dos Cânions (entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul). Em todo o mundo, são 195 geoparques, em 48 países.
São Paulo espera ter o primeiro geoparque do Estado com status conferido pela Unesco. Na próxima Conferência Internacional da organização, em setembro, será apresentado o projeto do Geoparque Corumbataí.
A Bacia Hidrográfica do Rio Corumbataí tem área de aproximadamente 1.700 km² e abriga uma população de cerca de 700 mil habitantes nos municípios de Analândia, Itirapina, Corumbataí, Rio Claro, Santa Gertrudes, Cordeirópolis, Ipeúna, Charqueada e Piracicaba, no interior paulista. A extensa área do Geoparque Corumbataí possui cachoeiras, mirantes, cavernas, pinturas rupestres e artefatos arqueológicos.
“O Brasil tem essa potencialidade. No futuro, o nicho de turismo pode estar cada vez mais fortalecido”, afirma Kuhn, na expectativa de que o Brasil possa se transformar num país referência no geoturismo.
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