MUNDO ANIMAL
Cientistas brasileiras comprovam que cobra da Amazônia se alimenta de aves
Pesquisadoras do Instituto Butantan tiveram estudo publicado em revista científica internacional
Última atualização: 10/07/2024 16:24
As biólogas Circe Cavalcanti de Albuquerque e Silvia Regina Travaglia Cardoso são pioneiras na descoberta de um aspecto comportamental da cobra-papagaio (Corallus batesii). No exterior, essa espécie é conhecida como jiboia-esmeralda da Bacia Amazônica (Aamazon Basin emerald tree boa, em inglês). As pesquisadoras do Instituto Butantan comprovaram que o animal se alimenta de aves.
Os indícios para a descoberta começaram em fevereiro de 2023. Naquela época, o Museu Biológico do Butantan recebeu a cobra após ela ter sido resgatada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). A cobra-papagaio ficou meses sem se alimentar, após o acolhimento e procedimento para cuidados veterinários.
“A serpente passou dois meses sem se alimentar e, quando defecou, notamos a presença de penas nas fezes. Isso mostra como observar o material biológico do animal e prestar atenção pode ajudar a obter respostas sobre sua biologia”, afirma Silvia.
De acordo com o Butantan, "as cientistas coletaram o material e o conservaram em álcool 70%. Três ornitólogos (especialistas em aves) foram consultados, mas não foi possível identificar a espécie de ave ingerida devido à degradação provocada pela digestão".
O estudo sugere, segundo a publicação, que a ingestão da ave ocorreu na própria natureza, antes do animal ser capturado ilegalmente. O transporte e manutenção inadequados, frequentes durante capturas ilegais da fauna silvestre, podem gerar desidratação e estresse no animal, o que neste caso retardou o processo de defecação e explica o nível de degradação das penas.
A comprovação foi publicada na revista Herpetology Notes e recebeu reconhecimento de um dos maiores especialistas do mundo no gênero Corallus, Robert W. Henderson. O pesquisador é curador da coleção herpetológica do Museu Público de Milwaukee, nos Estados Unidos.
Para Circe e Silvia, além da satisfação da descoberta, foi emocionante receber o contato de um pesquisador que é referência para elas. “Foi uma surpresa muito boa. O nosso papel como cientistas é produzir conhecimento, e o que me encanta é que estamos sempre aprendendo. Saber que contribuímos para o conhecimento científico é muito gratificante”, ressalta Circe.
Conforme o instituto, serpentes do gênero Corallus são arborícolas e vivem a maior parte do tempo no topo das árvores de florestas tropicais. São animais oportunistas, que se alimentam de lagartos, pássaros e pequenos mamíferos que passam por elas.
"A presença de aves na dieta dessas cobras já havia sido registrada para quase todas as espécies do gênero – com exceção da C. batesii e C. caninus, que vivem na floresta amazônica. A suspeita, porém, existia há décadas na ciência. Suas próprias características físicas são ideais para capturar presas volumosas, com dentes finos curvados para trás e cabeça avantajada. Inclusive, por serem morfologicamente muito parecidas, ambas eram consideradas da mesma espécie até a revalidação de C. batesii por Henderson e colaboradores em 2009."
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*Com informações do Instituto Butantan