Agronegócio
Cerca de 70% das mudas de hortaliças do RS saem de viveiros de Campo Bom
Cidade se destaca com viveiros que se dedicam exclusivamente ao cultivo do que é mandado para outros produtores
Última atualização: 29/02/2024 09:46
O cheiro da terra acompanha boa parte dos 37 anos da vida do produtor rural Deiverson Matos Mendes, no bairro Quatro Colônias, em Campo Bom. Foi para lá que se mudou com a esposa Angélica Cristina Jaeger Mendes, 41, para assumir o negócio da família junto com o cunhado e sócio, Cristiano Elias Jaeger. Desde 2010, eles gerenciam o Sítio Vida Nova, com quase três décadas de tradição no cultivo de mudas de hortaliças. Com apoio do poder público, o negócio familiar ganhou relevância em nível estadual. Das estufas em Campo Bom saem cerca de 70% das mudas de hortaliças que são cultivadas no Rio Grande do Sul.
"No início, nós produzíamos hortaliças, mas não tínhamos sempre mudas disponíveis, então decidimos começar a produzir nossas próprias mudas. Foi quando outros produtores também começaram a nos procurar para encomendar. Logo decidimos focar só na produção das mudas", recorda Mendes sobre o início do negócio que, com o passar dos anos, viria a prosperar.
Hoje, à frente da produção de mudas de rúcula, alface-crespa, espinafre, tomate e salsa, que ocupam 25 estufas em três hectares e meio do sítio da família, Deiverson é um dos seis viveiristas existentes na cidade, de acordo com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-RS).
Produção de hortaliças
Do total de viveiros em Campo Bom, quatro se dedicam apenas à produção de mudas de hortaliças, fator que alavancou o município como maior produtor de mudas do Rio Grande do Sul. Estima-se que cerca de 70% das hortaliças cultivadas no Estado sejam provenientes de mudas que germinaram nas estufas em Campo Bom.
"A cidade investiu ao longo dos últimos anos em políticas públicas para o desenvolvimento do setor. Isso se deu através da parceria entre a administração municipal, Emater/RS-Ascar e os produtores", aponta o então responsável pelo escritório municipal da Emater/RS-Ascar de Campo Bom, Claudinei Baldissera, que atualmente ocupa o cargo de diretor técnico da Emater no Estado. "Com essa rede fortalecida, foi possível criar um ambiente favorável ao crescimento do agronegócio local, o que permitiu que o município se tornasse, por exemplo, o maior produtor de mudas de hortaliças do Estado", pontua.
Método de enxerto permite aumento na produtividade
No sítio de Deiverson, a principal cultura de mudas é a do tomate. A hortaliça, que geralmente leva 30 dias para chegar ao ponto do plantio, é o principal produto vendido pela família, que apostou na enxertia (processo de associação de duas partes de diferentes plantas, que continuam seu crescimento como uma única planta) de tomateiros há oito anos.
O enxerto é um método que tem se popularizado, conforme o produtor, porque, além de proteger a planta contra doenças de solo, aumenta o vigor e a produtividade da lavoura. "Antes, a maioria das mudas vinha de São Paulo, o que gerava mais gastos aos produtores com o transporte, sem falar nas perdas de qualidade." Atualmente, o Sítio Vida Nova é o maior produtor de grande escala no Rio Grande do Sul, tendo como principais clientes os municípios da Serra e da Região Metropolitana.
Plano quadrianual define diretrizes
Uma boa muda é o primeiro passo para a produção de uma horta com hortaliças de qualidade. De olho neste mercado, na cidade foi criado o Plano Municipal de Desenvolvimento Rural (PMDR). O documento é renovado a cada quatro anos, com metas, projeções e possíveis investimentos para o setor a serem aplicados durante aquele período pré-estabelecido. A atualização mais recente ocorreu em 2022, com metas válidas até o ano de 2025. "É o que nos dá diretrizes orçamentárias para os investimentos na agricultura, para a criação de políticas públicas, já que lá estão registrados os objetivos e demandas da categoria", explica Claudinei Baldissera.
Foi através das diretrizes elencadas no plano que a cidade estabeleceu metas e um "cronograma de trabalho", onde foram elencadas as prioridades que demandavam atenção e ações emergenciais. "Com o plano em mãos, foram direcionados esforços, por exemplo, para a reestruturação da Patrulha Agrícola, programa que atende às demandas de tratores dos produtores rurais, como o preparo do solo para plantio", pontua.
Conforme o coordenador da Emater no município, com o PMDR foram identificadas demandas do dia a dia do produtor com a necessidade da instalação de um Escritório de Defesa Agropecuária (EDA) em Campo Bom. "Parece uma coisa simples, mais a instalação do EDA agilizou muitas demandas burocráticas, evitando, assim, também, que os agricultores tenham que se deslocar até outras cidades para emitir documentos obrigatórios, como a Declaração Anual de Rebanho, a oferta de crédito rural entre outros".
400 milhões de mudas ao ano são produzidas
Campo Bom é o principal produtor de mudas de hortaliças do Rio Grande do Sul, consequentemente um dos maiores do Brasil, de acordo com a Emater. São aproximadamente 400 milhões de mudas por ano, segundo a instituição, e uma estimativa de cerca de 150 postos de trabalho diretos mantidos pela atividade econômica.
"O sistema abastece mais de 600 produtores rurais no Estado, que, por sua vez, abastecem o consumidor final, o que significa que mais de 70% dos legumes que estão nas feiras e mercados gaúchos têm origem nas mudas produzidas aqui. Ou seja, boa parte dos alimentos consumidos pelos gaúchos têm em sua formação a mão de obra campo-bonense", detalha o diretor técnico da Emater.
Diferença entre cultivar com mudas ou sementes
Para o horticultor que opta pela aquisição das mudas para o cultivo, a vantagem é que essas já chegam prontas, o que garante maior probabilidade de a colheita dar certo. Fator explicado pela facilidade de aquisição - as mudas vêm em bandejas - e pelo vigor das plantas - uma garantia, para o comprador, da sanidade das plantas adquiridas. Já as sementes de hortaliça demoram cerca de 30 dias até virarem mudas, o que torna a produção mais demorada e com maiores custos no manejo.
Por que investir em mudas?
De acordo com estudo elaborado pela Embrapa sobre a produção de mudas de hortaliças, o cultivo das espécies representa uma etapa importante no sistema produtivo, que pode ser fundamental para a prosperidade da lavoura. Nesse estágio é preciso ter atenção à qualidade genética, fisiológica e sanitária para se obter uma produção de sucesso.
Conforme a Embrapa, a diferença entre a produção própria de mudas e a de viveiristas profissionais consiste no fato de que nos viveiros se dispõe de infraestrutura específica e também mão de obra especializada, por exemplo.
Manejo adequado, seleção de sementes, controle de pragas, nutrição e irrigação são outros aspectos que correspondem à qualidade das mudas.
O cheiro da terra acompanha boa parte dos 37 anos da vida do produtor rural Deiverson Matos Mendes, no bairro Quatro Colônias, em Campo Bom. Foi para lá que se mudou com a esposa Angélica Cristina Jaeger Mendes, 41, para assumir o negócio da família junto com o cunhado e sócio, Cristiano Elias Jaeger. Desde 2010, eles gerenciam o Sítio Vida Nova, com quase três décadas de tradição no cultivo de mudas de hortaliças. Com apoio do poder público, o negócio familiar ganhou relevância em nível estadual. Das estufas em Campo Bom saem cerca de 70% das mudas de hortaliças que são cultivadas no Rio Grande do Sul.
"No início, nós produzíamos hortaliças, mas não tínhamos sempre mudas disponíveis, então decidimos começar a produzir nossas próprias mudas. Foi quando outros produtores também começaram a nos procurar para encomendar. Logo decidimos focar só na produção das mudas", recorda Mendes sobre o início do negócio que, com o passar dos anos, viria a prosperar.
Hoje, à frente da produção de mudas de rúcula, alface-crespa, espinafre, tomate e salsa, que ocupam 25 estufas em três hectares e meio do sítio da família, Deiverson é um dos seis viveiristas existentes na cidade, de acordo com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-RS).
Produção de hortaliças
Do total de viveiros em Campo Bom, quatro se dedicam apenas à produção de mudas de hortaliças, fator que alavancou o município como maior produtor de mudas do Rio Grande do Sul. Estima-se que cerca de 70% das hortaliças cultivadas no Estado sejam provenientes de mudas que germinaram nas estufas em Campo Bom.
"A cidade investiu ao longo dos últimos anos em políticas públicas para o desenvolvimento do setor. Isso se deu através da parceria entre a administração municipal, Emater/RS-Ascar e os produtores", aponta o então responsável pelo escritório municipal da Emater/RS-Ascar de Campo Bom, Claudinei Baldissera, que atualmente ocupa o cargo de diretor técnico da Emater no Estado. "Com essa rede fortalecida, foi possível criar um ambiente favorável ao crescimento do agronegócio local, o que permitiu que o município se tornasse, por exemplo, o maior produtor de mudas de hortaliças do Estado", pontua.
Método de enxerto permite aumento na produtividade
No sítio de Deiverson, a principal cultura de mudas é a do tomate. A hortaliça, que geralmente leva 30 dias para chegar ao ponto do plantio, é o principal produto vendido pela família, que apostou na enxertia (processo de associação de duas partes de diferentes plantas, que continuam seu crescimento como uma única planta) de tomateiros há oito anos.
O enxerto é um método que tem se popularizado, conforme o produtor, porque, além de proteger a planta contra doenças de solo, aumenta o vigor e a produtividade da lavoura. "Antes, a maioria das mudas vinha de São Paulo, o que gerava mais gastos aos produtores com o transporte, sem falar nas perdas de qualidade." Atualmente, o Sítio Vida Nova é o maior produtor de grande escala no Rio Grande do Sul, tendo como principais clientes os municípios da Serra e da Região Metropolitana.
Plano quadrianual define diretrizes
Uma boa muda é o primeiro passo para a produção de uma horta com hortaliças de qualidade. De olho neste mercado, na cidade foi criado o Plano Municipal de Desenvolvimento Rural (PMDR). O documento é renovado a cada quatro anos, com metas, projeções e possíveis investimentos para o setor a serem aplicados durante aquele período pré-estabelecido. A atualização mais recente ocorreu em 2022, com metas válidas até o ano de 2025. "É o que nos dá diretrizes orçamentárias para os investimentos na agricultura, para a criação de políticas públicas, já que lá estão registrados os objetivos e demandas da categoria", explica Claudinei Baldissera.
Foi através das diretrizes elencadas no plano que a cidade estabeleceu metas e um "cronograma de trabalho", onde foram elencadas as prioridades que demandavam atenção e ações emergenciais. "Com o plano em mãos, foram direcionados esforços, por exemplo, para a reestruturação da Patrulha Agrícola, programa que atende às demandas de tratores dos produtores rurais, como o preparo do solo para plantio", pontua.
Conforme o coordenador da Emater no município, com o PMDR foram identificadas demandas do dia a dia do produtor com a necessidade da instalação de um Escritório de Defesa Agropecuária (EDA) em Campo Bom. "Parece uma coisa simples, mais a instalação do EDA agilizou muitas demandas burocráticas, evitando, assim, também, que os agricultores tenham que se deslocar até outras cidades para emitir documentos obrigatórios, como a Declaração Anual de Rebanho, a oferta de crédito rural entre outros".
400 milhões de mudas ao ano são produzidas
Campo Bom é o principal produtor de mudas de hortaliças do Rio Grande do Sul, consequentemente um dos maiores do Brasil, de acordo com a Emater. São aproximadamente 400 milhões de mudas por ano, segundo a instituição, e uma estimativa de cerca de 150 postos de trabalho diretos mantidos pela atividade econômica.
"O sistema abastece mais de 600 produtores rurais no Estado, que, por sua vez, abastecem o consumidor final, o que significa que mais de 70% dos legumes que estão nas feiras e mercados gaúchos têm origem nas mudas produzidas aqui. Ou seja, boa parte dos alimentos consumidos pelos gaúchos têm em sua formação a mão de obra campo-bonense", detalha o diretor técnico da Emater.
Diferença entre cultivar com mudas ou sementes
Para o horticultor que opta pela aquisição das mudas para o cultivo, a vantagem é que essas já chegam prontas, o que garante maior probabilidade de a colheita dar certo. Fator explicado pela facilidade de aquisição - as mudas vêm em bandejas - e pelo vigor das plantas - uma garantia, para o comprador, da sanidade das plantas adquiridas. Já as sementes de hortaliça demoram cerca de 30 dias até virarem mudas, o que torna a produção mais demorada e com maiores custos no manejo.
Por que investir em mudas?
De acordo com estudo elaborado pela Embrapa sobre a produção de mudas de hortaliças, o cultivo das espécies representa uma etapa importante no sistema produtivo, que pode ser fundamental para a prosperidade da lavoura. Nesse estágio é preciso ter atenção à qualidade genética, fisiológica e sanitária para se obter uma produção de sucesso.
Conforme a Embrapa, a diferença entre a produção própria de mudas e a de viveiristas profissionais consiste no fato de que nos viveiros se dispõe de infraestrutura específica e também mão de obra especializada, por exemplo.
Manejo adequado, seleção de sementes, controle de pragas, nutrição e irrigação são outros aspectos que correspondem à qualidade das mudas.