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Bolsonaristas voltam a usar Telegram para convocar manifestações com teorias da conspiração

Estratégia consiste na divulgação de desinformação, conteúdos extremistas, vaquinhas e caravanas para a manifestação

Publicado em: 15/02/2024 às 16h:57 Última atualização: 15/02/2024 às 16h:58
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Apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) voltam a usar teorias conspiratórias e a publicar mensagens radicalizadas para chamar a atenção de mais pessoas para participarem do ato em defesa do ex-presidente na Avenida Paulista, no dia 25 de fevereiro. A estratégia consiste na divulgação de desinformação, conteúdos extremistas, vaquinhas e caravanas para a manifestação.

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Bolsonaristas voltam a usar Telegram para convocar manifestações com teorias da conspiração

Foto: Reprodução

Usuários voltaram a compartilhar, por exemplo, a crença de uma paralisação geral por caminhoneiros, motociclistas e empresários do agronegócio, enquanto, paralelamente, golpistas financeiros também se aproveitam do momento para tentar enganar pessoas usando deep fakes.

Levantamento feito pelo Laboratório de Humanidades Digitais (LAB-HD) da Universidade Federal da Bahia (UFBA) com apoio do InternetLab contabilizou 951 mensagens em 96 grupos e 113 canais do Telegram, aplicativo de mensagens, que envolvem menções relativas ao 25 de fevereiro.

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Entre as mensagens, Bolsonaro e sua família são mencionados 166 vezes, líderes religiosos e instituições são mencionados 35 vezes e o Supremo Tribunal Federal e os ministros são mencionados 15 vezes.

“O presidente Bolsonaro está dando um recado: estamos a 11 dias do maior evento de democracia e resgate aos movimentos patrióticos como os 70 dias nos quartéis. Eu estava lá e vocês?”, diz uma das mensagens, que circulou em 16 dos grupos monitorados. “Vamos atender o chamado dele para o dia 25/02/2024 às 15h na Avenida Paulista. Não esqueçam quem é o governador de SP que certamente o dará todo o apoio necessário.”

A convocação de Bolsonaro no Instagram é a 12ª publicação do ex-presidente com mais engajamento nos últimos 365 dias, segundo a agência Bites, empresa de análise de dados. Foram aproximadamente 1,4 milhão de reações (a soma de curtidas, compartilhamentos e comentários). O vídeo foi visto 14,4 milhões de vezes.

A última vez que Lula teve tal repercussão em seu perfil na rede foi em 4 de novembro, quando falou do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).

“Isso mostra uma força do ex-presidente como há alguns meses não se via. É um sinal de que a mobilização para o ato está com bastante força nesses primeiros dias desde a convocação, o que deve ser motivo de preocupação para o governo e para o STF”, diz André Eler, diretor adjunto da Bites.

Nesses diferentes grupos começam a circular mensagens convocando clubes de motocicleta e pessoas ligadas ao agronegócio. “O Brasil vai se levantar. Os motoclubes estão se levantando, o povo está se levantando, caminhoneiros vão se levantar. E o Brasil está vivendo um momento diferente, de todos que estão dispostos a defender nosso capitão”, diz um homem em um vídeo em circulação nesses grupos. “Acho que mexeram com o formigueiro. O povo vai se levantar e não vão aceitar botar o capitão na cadeia por vaidade.”

Outras mensagens conclamam os caminhoneiros a pararem caso Bolsonaro seja preso. “Assunto que está circulando nos bastidores. Que uma grande paralisação geral dos caminhoneiros e o agro estão articulando logo após a prisão do Bolsonaro”, diz uma mensagem, sem dar mais detalhes. “Pessoal, se preparem para o pior, porque irá haver desabastecimento nos mercados e postos de gasolina, em geral.”

“Temos hoje, mesmo após a saída de Bolsonaro, um ecossistema multiplataforma de desinformação e mensagem de ódio que rapidamente receberam esse chamamento do ex-presidente. Acredito que a manifestação potencialmente pode receber muita gente”, diz Leonardo Nascimento, pesquisador do LABHD, da UFBA, responsável pelo levantamento. “Isso cria uma efervescência no grupo, de caráter conspiratório, que é preocupante.”

Bolsonaristas não realizam uma grande manifestação desde o 8 de Janeiro. Como mostrou o Estadão, após os ataques e a prisão dos golpistas, usuários em grupos de WhatsApp e Telegram ficaram em clima de desolação e com medo de fazer qualquer manifestação política.

Agora, mensagens radicalizadas voltaram a ganhar maior recirculação em grupos no Telegram. “Barulho, conservadores! Não é hora de aposentar os sinos. O Brasil patriota precisa despertar para a batalha!”, afirma uma mensagem em circulação nessas páginas.

Outros usuários preferem manter a cautela. Há um reiterado pedido para que ninguém leve faixas ou cartazes, acompanhando a orientação feita por Bolsonaro, ao gravar vídeo convocando a manifestação. “Eu peço a todos vocês que compareçam trajando verde e amarelo e, mais que isso: não compareçam com qualquer faixa e cartaz contra quem quer que seja”, disse, no vídeo encaminhado em seu perfil nas redes sociais.

“Não leve cartazes. O presidente disse para não levar”, disse uma usuária. “A esquerda quer se infiltrar para levantar cartazes para prender Bolsonaro.”

No próprio Telegram, membros procuram saber sobre caravanas de outros lugares do Brasil para ir à Avenida Paulista. Como mostrou o Estadão, pelo menos cinco delas são divulgadas repetidamente nas redes sociais. Os carros partirão dos interiores de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

Golpistas financeiros aproveitam momento para enganar bolsonaristas

No meio de organizações espontâneas, vaquinhas e organização de ônibus para transporte, golpistas tentam enganar bolsonaristas para fazerem doações em vídeos manipulados.

Um deles mescla áudios forjados com uma publicação original do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) para levar bolsonaristas a um site que seria responsável para organizar toda a estrutura do evento na Avenida Paulista. “Tá aí o site do ato que vai acontecer no dia 25. Todo evento grande tem um custo, né, precisamos pagar toda a estrutura e segurança”, diz um trecho manipulado.

O vídeo ganha tração em grupos no Telegram e no WhatsApp e enganou alguns bolsonaristas, que enviaram mensagens de apoio a Nikolas. Ao Estadão, o deputado confirmou que o vídeo é falso e ele estuda quais medidas tomará contra o conteúdo.

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