Arte
As cores de Scholles vão para as telas do cinema
Primeira exibição pública de filme sobre vida e obra do artista plástico da região será em Morro Reuter
Última atualização: 05/11/2024 15:30
Com pincel e tinta, Flávio Scholles apresenta sua aldeia para o mundo. O cenário e os personagens do lugar onde nasceu são a inspiração para as milhares de obras que já tem espalhadas pelo que chama de cavernas contemporâneas – casas e apartamentos – pelo planeta, elaboradas numa tentativa de “emitir os primeiros sinais para uma comunicação universal através dos quadros que falam”. E falam de tal forma que o som saiu das telas de tecido para reverberar nas telas de cinema. No dia 19 de março ocorre a primeira exibição pública do filme Scholles – Sementes da Cor, média-metragem sobre a vida e obra do artista plástico dirigido por Rejane Zilles.
O lugar para a projeção não poderia ser outro: o Ginásio Municipal de Morro Reuter, cidade berço da diretora e do pintor. “Eu e Flávio temos uma história de vida com pontos em comum. Nascemos neste mesmo povoado de descendência germânica, e, embora sejamos de gerações diferentes, aprendemos a falar português somente quando chegamos à escola, cada um na sua época, e vivemos nossa infância na colônia. Depois de trilharmos nosso caminho pessoal e profissional, voltamos às origens para registrar em quadros e filmes a vida deste lugar”, comenta Rejane.
Ela conta que já era admiradora do trabalho do artista plástico muito antes de iniciar a produção, mas que as gravações a lembraram da obstinação de Scholles pela pintura. “Ele é um operário da arte, um cara que respira, que vive isso 24 horas por dia. É um artista muito focado no trabalho, em pintar com autenticidade”, diz. Acompanhar o processo de criação de uma obra desde o início foi uma das formas que a diretora encontrou de revelar a paixão do artista pelo seu ofício. “Foi muito bonito ver esse processo de perto, ter a possibilidade de acompanhar este momento. O Flávio não teve barreiras, foi uma troca muito rica.”
Em casa
Gravado em dezembro de 2015, em Morro Reuter e em Brodowski (SP), cidade natal de Cândido Portinari, artista que influenciou a pintura de Scholles, o filme teve apenas uma sessão de lançamento para convidados e foi exibido em festivais de cinema no Brasil e Exterior. Esta será a primeira sessão aberta para o grande público, acompanhada ainda de uma homenagem para a diretora, filha ilustre da cidade. “Poder fazer essa exibição onde filmei, onde foi realizado, é uma coisa especial. Filmei com moradores do Walachai, faço no filme uma interseção das telas com a realidade. Há um contato com pessoas da região, cenas que ele coloca nos quadros, que filmei e agora estas pessoas poderão se ver na tela, como personagens. O Flávio é protagonista e as figuras das obras dele estão ali: na tela dos quadros e na tela do cinema.”
O artista vira obra
No documentário, Rejane diz que procurou expressar o talento e a genialidade de Scholles ao falar sobre suas origens e seu processo de criação. “É sobre a figura artística, não simplesmente mostrar a obra. Através da obra, eu o apresento”, observa. Para Scholles, o que fez em cena foi representar a si mesmo. Ele afirma que a experiência foi desafiadora e ao mesmo tempo cheia de descobertas sobre o mundo da sétima arte. “Sou muito tímido. Quando escolas vinham ao atelier, quase desmaiava se alguma criança fazia uma pergunta. Na produção do filme não foi tanto, mas não tinha o direito de errar enquanto desenhava, havia as marcações no chão, a produção. Hoje vejo filmes de outra maneira”, revela. Além disso, ele conta que participar do média-metragem despertou uma admiração maior pelo cinema: “A imagem é maravilhosa, é a mais completa.”
O pintor
Nascido em São José do Herval, uma localidade de Morro Reuter habitada por descendentes de alemães, Scholles, hoje com 68 anos, conquistou seu espaço no mundo das artes pintando o trabalho, a gente e os costumes peculiares de sua aldeia. Na infância, a sua primeira referência em arte foram os vitrais da igrejinha do lugarejo; e seus primeiros desenhos surgiram em bolachas de natal, feitos com açúcar confeiteiro. Depois de passar por Porto Alegre e São Paulo para estudar artes, voltou à sua terra natal, onde ergueu seu atelier e consolidou seu estilo e sua obra. Hoje, soma mais de 8 mil quadros produzidos, muitos deles expostos em galerias e museus de diversos países. Só no ano passado, foram 300 quadros pintados. Ele afirma que sua intenção sempre foi trazer um colorido para a região do Vale do Sinos e, modesto, diz apenas que teve o privilégio de ganhar um dom de Deus. “Mas como pessoa sou um atrapalhado”, confessa.
Memórias afetivas
Embora resida no Rio de Janeiro desde os anos 1990, Rejane conta que seus laços com a região permanecem, principalmente com a localidade de Walachai, onde nasceu e onde ainda mora parte de sua família. “Tenho memórias afetivas muito fortes na minha imaginação. Fora que é um lugar que acho muito bonito, que me encanta até hoje. Apesar de ter viajado muito pelo mundo, sinto que Morro Reuter tem uma coisa especial. Até hoje, sempre que entro naquele túnel de plátanos da estrada que leva à cidade, sinto uma emoção profunda que não sei explicar. Acho que tem a ver com as tais raízes que nos ligam ao nosso lugar de origem”, diz a atriz, diretora e cineasta. Este afeto se reflete em seus três filmes, O Livro de Walachai (curta-metragem), Walachai (longa-metragem) e Scholles - sementes da cor (média-metragem), que documentam e projetam a região para muito além de seus horizontes geográficos.
Com a produção sobre a vida do artista plástico, Rejane diz que encerra também uma trilogia de trabalhos ambientados em Morro Reuter. “Agora está de bom tamanho, já deram uma boa mapeada na região. Não quer dizer que não faça mais nada sobre este lugar, mas já tenho dois projetos em andamento para próximos filmes”, revela. O primeiro é um documentário sobre a cena cultural brasileira em Londres nos anos 1960 e o segundo uma ficção ambientada em uma favela do Rio do Janeiro. Ambos, porém, ainda estão em fase de captação e desenvolvimento de roteiro. Atualmente, Rejane também é curadora e diretora do Festival MIMO de Cinema, realizado em Paraty (RJ), Olinda (PE), Rio de Janeiro e em Amarante, Portugal.
Com pincel e tinta, Flávio Scholles apresenta sua aldeia para o mundo. O cenário e os personagens do lugar onde nasceu são a inspiração para as milhares de obras que já tem espalhadas pelo que chama de cavernas contemporâneas – casas e apartamentos – pelo planeta, elaboradas numa tentativa de “emitir os primeiros sinais para uma comunicação universal através dos quadros que falam”. E falam de tal forma que o som saiu das telas de tecido para reverberar nas telas de cinema. No dia 19 de março ocorre a primeira exibição pública do filme Scholles – Sementes da Cor, média-metragem sobre a vida e obra do artista plástico dirigido por Rejane Zilles.
O lugar para a projeção não poderia ser outro: o Ginásio Municipal de Morro Reuter, cidade berço da diretora e do pintor. “Eu e Flávio temos uma história de vida com pontos em comum. Nascemos neste mesmo povoado de descendência germânica, e, embora sejamos de gerações diferentes, aprendemos a falar português somente quando chegamos à escola, cada um na sua época, e vivemos nossa infância na colônia. Depois de trilharmos nosso caminho pessoal e profissional, voltamos às origens para registrar em quadros e filmes a vida deste lugar”, comenta Rejane.
Ela conta que já era admiradora do trabalho do artista plástico muito antes de iniciar a produção, mas que as gravações a lembraram da obstinação de Scholles pela pintura. “Ele é um operário da arte, um cara que respira, que vive isso 24 horas por dia. É um artista muito focado no trabalho, em pintar com autenticidade”, diz. Acompanhar o processo de criação de uma obra desde o início foi uma das formas que a diretora encontrou de revelar a paixão do artista pelo seu ofício. “Foi muito bonito ver esse processo de perto, ter a possibilidade de acompanhar este momento. O Flávio não teve barreiras, foi uma troca muito rica.”
Em casa
Gravado em dezembro de 2015, em Morro Reuter e em Brodowski (SP), cidade natal de Cândido Portinari, artista que influenciou a pintura de Scholles, o filme teve apenas uma sessão de lançamento para convidados e foi exibido em festivais de cinema no Brasil e Exterior. Esta será a primeira sessão aberta para o grande público, acompanhada ainda de uma homenagem para a diretora, filha ilustre da cidade. “Poder fazer essa exibição onde filmei, onde foi realizado, é uma coisa especial. Filmei com moradores do Walachai, faço no filme uma interseção das telas com a realidade. Há um contato com pessoas da região, cenas que ele coloca nos quadros, que filmei e agora estas pessoas poderão se ver na tela, como personagens. O Flávio é protagonista e as figuras das obras dele estão ali: na tela dos quadros e na tela do cinema.”
O artista vira obra
No documentário, Rejane diz que procurou expressar o talento e a genialidade de Scholles ao falar sobre suas origens e seu processo de criação. “É sobre a figura artística, não simplesmente mostrar a obra. Através da obra, eu o apresento”, observa. Para Scholles, o que fez em cena foi representar a si mesmo. Ele afirma que a experiência foi desafiadora e ao mesmo tempo cheia de descobertas sobre o mundo da sétima arte. “Sou muito tímido. Quando escolas vinham ao atelier, quase desmaiava se alguma criança fazia uma pergunta. Na produção do filme não foi tanto, mas não tinha o direito de errar enquanto desenhava, havia as marcações no chão, a produção. Hoje vejo filmes de outra maneira”, revela. Além disso, ele conta que participar do média-metragem despertou uma admiração maior pelo cinema: “A imagem é maravilhosa, é a mais completa.”
O pintor
Nascido em São José do Herval, uma localidade de Morro Reuter habitada por descendentes de alemães, Scholles, hoje com 68 anos, conquistou seu espaço no mundo das artes pintando o trabalho, a gente e os costumes peculiares de sua aldeia. Na infância, a sua primeira referência em arte foram os vitrais da igrejinha do lugarejo; e seus primeiros desenhos surgiram em bolachas de natal, feitos com açúcar confeiteiro. Depois de passar por Porto Alegre e São Paulo para estudar artes, voltou à sua terra natal, onde ergueu seu atelier e consolidou seu estilo e sua obra. Hoje, soma mais de 8 mil quadros produzidos, muitos deles expostos em galerias e museus de diversos países. Só no ano passado, foram 300 quadros pintados. Ele afirma que sua intenção sempre foi trazer um colorido para a região do Vale do Sinos e, modesto, diz apenas que teve o privilégio de ganhar um dom de Deus. “Mas como pessoa sou um atrapalhado”, confessa.
Memórias afetivas
Embora resida no Rio de Janeiro desde os anos 1990, Rejane conta que seus laços com a região permanecem, principalmente com a localidade de Walachai, onde nasceu e onde ainda mora parte de sua família. “Tenho memórias afetivas muito fortes na minha imaginação. Fora que é um lugar que acho muito bonito, que me encanta até hoje. Apesar de ter viajado muito pelo mundo, sinto que Morro Reuter tem uma coisa especial. Até hoje, sempre que entro naquele túnel de plátanos da estrada que leva à cidade, sinto uma emoção profunda que não sei explicar. Acho que tem a ver com as tais raízes que nos ligam ao nosso lugar de origem”, diz a atriz, diretora e cineasta. Este afeto se reflete em seus três filmes, O Livro de Walachai (curta-metragem), Walachai (longa-metragem) e Scholles - sementes da cor (média-metragem), que documentam e projetam a região para muito além de seus horizontes geográficos.
Com a produção sobre a vida do artista plástico, Rejane diz que encerra também uma trilogia de trabalhos ambientados em Morro Reuter. “Agora está de bom tamanho, já deram uma boa mapeada na região. Não quer dizer que não faça mais nada sobre este lugar, mas já tenho dois projetos em andamento para próximos filmes”, revela. O primeiro é um documentário sobre a cena cultural brasileira em Londres nos anos 1960 e o segundo uma ficção ambientada em uma favela do Rio do Janeiro. Ambos, porém, ainda estão em fase de captação e desenvolvimento de roteiro. Atualmente, Rejane também é curadora e diretora do Festival MIMO de Cinema, realizado em Paraty (RJ), Olinda (PE), Rio de Janeiro e em Amarante, Portugal.
Com pincel e tinta, Flávio Scholles apresenta sua aldeia para o mundo. O cenário e os personagens do lugar onde nasceu são a inspiração para as milhares de obras que já tem espalhadas pelo que chama de cavernas contemporâneas – casas e apartamentos – pelo planeta, elaboradas numa tentativa de “emitir os primeiros sinais para uma comunicação universal através dos quadros que falam”. E falam de tal forma que o som saiu das telas de tecido para reverberar nas telas de cinema. No dia 19 de março ocorre a primeira exibição pública do filme Scholles – Sementes da Cor, média-metragem sobre a vida e obra do artista plástico dirigido por Rejane Zilles.