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ARTE E REFLEXÃO

Aldeia Sesc celebra cultura e consciência negra em Novo Hamburgo

Espetáculo Ialodê mostra repertório de autoria negra, feminina e gaúcha

Dário Gonçalves
Publicado em: 17/11/2023 às 20h:47 Última atualização: 17/11/2023 às 20h:50
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Teve início na na noite de quinta-feira (16), pelo quarto ano consecutivo, a Aldeia Sesc. O evento ocorre até domingo (19) principalmente na Praça do Imigrante, mas também em escolas, na Casa das Artes, Praça da Juventude e no Sesc, em parceria com a secretaria de Cultura de Novo Hamburgo.

Show “Ialodê” com Loma Pereira, Nina Fola, Marietti Fialho e Glau Barros | Jornal NH



Show “Ialodê” com Loma Pereira, Nina Fola, Marietti Fialho e Glau Barros

Foto: Dário Gonçalves/GES-Especial

Nesta sexta-feira (17), as atrações estão voltadas para o mês da Consciência Negra, que tem seu dia celebrado no dia 20 de novembro. Dentre os destaques, está o espetáculo de dança “Cotidiano Urbano”, trabalho do grupo Restinga Crew que venceu o Prêmio Açorianos de Dança em 2022 e traduz uma realidade de vulnerabilidade social e arte de rua embalada pelo hip hop.

Às 20 horas, a Praça do Imigrante recebeu o show “Ialodê”, com Loma Pereira, Nina Fola, Marietti Fialho e Glau Barros, quatro das principais vozes da música negra do Rio Grande do Sul, em uma apresentação embalada por samba, reggae e maçambique.

Antes do show, Nina Fola concedeu uma entrevista à reportagem e falou sobre a importância da cultura negra e do valor da música para disseminar e viver esta cultura, entre outras coisas.

Confira:

O que apresentaram em Novo Hamburgo?

O espetáculo Ialodê é composto por um repertório de autoria basicamente feminina, negra e gaúcha. Muitas das músicas são das próprias cantoras, outras de artistas que nós prestigiamos e gostamos de cantar.

Qual é a importância da música para disseminar a cultura negra?

A música é um dos elementos fundamentais da cultura negra no mundo. Então, a música é, talvez, o elemento que mais dissemina a cultura negra, que mais as pessoas conseguem identificar a identidade negra como referência. E, para a cultura negra, a música não é somente entretenimento. Ela traz elementos filosóficos, de produção de conhecimento, epistemológicos, e faz parte da organização dos grupos negros.

Quais músicas e autores das músicas estarão em voga na apresentação?

O nosso repertório tem várias autorias, algumas são das próprias cantoras. Tem uma música, “Bananeira”, que é minha, e também uma música do meu pai que que eu canto, e também Giba Giba. A cantora Glau Barros canta Ziriguidum, da Zilah Machado, uma cantora e compositora negra de Porto Alegre. Canta também Mestre Paraquedas, Fuxico, e enfim, canta autores que trazem a perspectiva negra nessas músicas. A cantora Marietti Fialho canta as composições dela. E a Loma Pereira também tem composições dela, e tem também as composições de maçambique, importantes da cultura do litoral gaúcho.

Como observa o Dia da Consciência Negra? O que cada um pode fazer para reduzir o preconceito?

O Dia da Consciência Negra fez 50 anos em 2022. E nós, comunidade negra, artistas, vivemos essa data de forma a pensar e construir essa data cada vez mais. Não é uma questão de observação, de distanciamento. Nós somos um movimento social que constrói essa data para que a gente possa, em toda a sociedade, poder problematizar a questão do racismo em todos os lugares. Então, esse dia é fundamental para nossa cultura, inclusive para o nosso trabalho como artistas que somos.

O que cada um pode fazer para reduzir o preconceito é uma pergunta de muita profundidade, que a gente poderia dizer é que para além de não se declarar racista. As pessoas têm que observar o que as pessoas negras estão dizendo sobre, ouvir, tentar se entender, se observar, entender que a questão não é da individualidade, mas sim de sistêmica. Que essa sociedade produz e reproduz para que se mantenha o racismo, assim como outros mecanismos de opressão e desigualdade.

Enfim, o que cada um tem que fazer, principalmente nós, pessoas negras, é fortalecer a consciência negra entre as pessoas negras e também entre as pessoas brancas. Fazer com que elas tenham consciência sobre o racismo que é estrutural. Sobre o racismo que, sendo estrutural, constitui a cultura e a sociedade brasileira e que a gente precisa, nos lugares onde temos poder, pressionar, estimular, problematizar a presença negra nesses espaços.

Que mensagem deixa sobre a Consciência Negra?

Nós somos a própria manifestação da cultura negra, portanto a presença dos nossos corpos é a presença negra. É a presença da consciência negra, é a presença da potência das mulheres na cultura negra, é a presença daquilo que esse Estado, que essa sociedade racista, tenta invisibilizar e mata o tempo inteiro. Essa é a nossa mensagem. Estamos vivas, lindas e alegres.

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