AGRONEGÓCIO

Safra de olivas em 2024 terá produção reduzida, mas qualidade do azeite não deve ser afetada

Projeção da colheita estima que o resultado do ciclo de 2023 seja 30% menor que a safra anterior

Publicado em: 19/02/2024 18:14
Última atualização: 19/02/2024 18:14

Assim como a uva, a safra das oliveiras, que começa em fevereiro de 2024, também deve registrar perdas em relação ao ano passado, quando foram produzidos 580 mil litros de azeite no Rio Grande do Sul. A estimativa é que a produção, em comparação com a safra de 2023, reduza em 30%, de acordo com o que foi apresentado na programação do 28º Congresso Brasileiro de Fruticultura, em novembro do ano passado.

Lagar Milonga, em TriunfoDivulgação
Lagar Milonga, em Triunfo: inverno instável prejudicou a floração, que ficou desparelhaDivulgação
Lagar Milonga, em TriunfoDivulgação
Lagar Milonga, em TriunfoDivulgação
Lagar Milonga, em TriunfoDivulgação
Lagar Milonga, em TriunfoDivulgação

Maior produtor brasileiro de olivas, respondendo por 75,7% da área colhida no país, o Rio Grande do Sul conta com uma área plantada de 5.631 hectares, sendo 2.564 em formação e 3.067 já em produção.

Segundo o pesquisador da Embrapa Clima Temperado, Rogério Oliveira Jorge, a colheita deve começar por volta de 15 de fevereiro. Alguns números dão conta que tenha de 70% a 90% de quebra na safra, mas ainda é cedo para precisar.

“Em 2023 teve a característica de um inverno muito instável, com poucas horas de frio, o que fez com que a florada fosse muito desparelha. O período de polinização, de setembro a outubro, também. O que vai afetar a produção dos olivais aqui do Estado”, explica.

O pesquisador também destaca que é comum a oliveira ter essa característica de ter um ano com safra maior e outro menor, mas o tempo e o clima instável, como foi o ano passado, devem impactar na produção. Apesar da quebra na safra, a qualidade do azeite não deve ser afetada.

“Variações de clima afetam muito, mas a qualidade permanece a mesma. A produção pode ser menor, mas teremos um produto de boa qualidade, com bom processamento e um bom produto no mercado”, garante Jorge.

Apesar do azeite importado ganhar espaço entre os consumidores, a produção nacional ganha vantagem por ser mais fresco. “Fazendo uma comparação o importado, que chega aqui com mais tempo entre a colheita e a embalagem, o nosso tem essa vantagem na qualidade, por ser um produto que chega para o consumidor em pouco tempo depois da colheita”, explica o pesquisador.

O impacto do clima deve impactar as variedades mais precoces. O pesquisador afirma que ainda não é possível quantificar, mas a cultivar arbequina pode ser que seja a mais afetada. Em relação ao preço, deve seguir com um valor mais alto até meados de junho, quando os produtores começam a avaliar as floradas das oliveiras.

“Você encontra, hoje, azeites importados com preços mais baixos que o azeite nacional. Deve seguir os mesmos patamares de preço da safra anterior, não vai subir mais do que já encontrado nas prateleiras”, comenta.

Jorge destaca que até metade do ano o mercado deverá seguir pouco abastecido de azeite importado. “Já no mercado interno, vamos estar abastecidos, com uma produção, embora seja menor, os azeites que estão sendo produzidos estão sendo muito bons. Falta só termos mais produção para conseguirmos suprir o nosso mercado”, avalia.

Embrapa vai trabalhar em novas variedades

Pensando nas projeções do clima para os próximos anos, a Embrapa está trabalhando em outras variedades, com novos materiais genéticos, visando minimizar os problemas relacionados à perda de safra.

“Vamos trabalhar com a ideia de trazer novos materiais a ser testados, com menor exigência de horas de frios, trabalhos que vão ser iniciados com a ideia de minimizar esse tipo de problema, porque o clima não temos como mudar Será um trabalho moroso, que vai levar anos, mas deve ser iniciado para minimizar os efeitos dessas variações climáticas que estão acontecendo”, completa Jorge.

Produção em Triunfo percebeu redução na safra

Um dos proprietários do Lagar Milonga, em Triunfo, Christian Vogt comenta que o El Ninõ afetou todos os produtores. “O inverno foi muito instável, então tivemos uma floração desparelha. Muita chuva no período de descolonização. E isso é notado com todos os produtores do estado”, comenta.

Por conta da instabilidade, a floração foi antecipada, e assim como explicou o pesquisador da Embrapa, as cultivares que sofrem mais são as que florescem mais tarde. “A planta precisa polinizar. Com o período de muita chuva, a umidade do ar faz com o que o pólen não consiga voar. Ela precisa muito do vento, e alguns dias secos que não propiciaram isso”, avalia Vogt.


Lagar Milonga, em Triunfo Foto: Divulgação

Sobre a qualidade, Vogt garante que não será interferido pelo clima. “Quanto à qualidade do azeite, o consumidor não precisa ter dúvidas, seguramente estará muito boa”, comenta. Apesar da baixa produtividade, isso não terá acesso ao preço do mercado. Por conta da seca na Espanha, o preço do azeite internacional quase que dobrou, e isso deverá afetar o consumidor em geral. “Podemos chegar no meio do ano e ter esgotado nossa safra, por não ter um número para atender o público geral.

Para a próxima safra, Vogt espera que o clima volte a sua normalidade. “O momento é cíclico. Eu espero que o próximo inverno e primavera sejam um pouco mais normais, uma tendência mais natural”, comenta. O azeite Milonga deverá ser distribuído já em safra nova a partir de março.

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