Foto: Madalena Boeni/Arquivo pessoal
Experimento realizado em Júlio de Castilhos, na região central do RS, avaliou a perda de água em diferentes sistemas de cultivo. O estudo, conduzido pela pesquisadora Madalena Boeni, aborda, em especial o Sistema de Plantio Direto (SPD). Na entrevista a seguir, ela fala não só dos resultados do estudo, como também sobre sistemas que se adaptam aos eventos climáticos extremos.
Primeiro gostaria que você explicasse como foi realizado o experimento na rotação de cultura. Era uma propriedade rural ou uma lavoura plantada especificamente para o projeto?
Este estudo fez parte de um projeto maior, financiado pela FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos), no qual várias Instituições de Pesquisa e Ensino do Estado participaram. O experimento foi conduzido no município de Júlio de Castilhos, na área experimental do Centro Estadual de Diagnóstico e Pesquisa em Sementes (CESEM-DDPA), pertencente à Secretaria de Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e
Irrigação (SEAPI).
Os tratamentos avaliados foram implementados exclusivamente para o projeto e constituíram de três manejos de culturas, sendo eles: sucessão de culturas: soja – trigo; rotação de culturas 1: soja – nabo – trigo/soja – aveia preta + ervilhaca; rotação de culturas 2: soja – aveia preta + ervilhaca + nabo/milho – crotalária júncea – trigo. E dois manejos de solo, sendo eles: escarificação até 30 cm; condição natural do solo, sem escarificação. O objetivo deste trabalho foi avaliar, durante um ano, a influência de níveis crescentes de diversificação de espécies vegetais e de cobertura do solo e da escarificação, no controle do escoamento superficial, na encosta de um Nitossolo, no município de Júlio de Castilhos.
Do início do projeto até a publicação do artigo, quanto tempo de trabalho levou?
O experimento foi instalado em 2013 e os resultados e avaliações realizadas durante o período de um ano foram utilizados para a redação deste Boletim Técnico (julho de 2015 a julho de 2016).
Tem um ponto no material que fala sobre o plantio direto. Gostaria que explicasse como é essa técnica e por que ela é indicada na agricultura?
O Sistema Plantio Direto (SPD) é uma das principais estratégias da agricultura conservacionista. Neste sistema de manejo se preconiza, além do não revolvimento do solo com manutenção da palha na superfície, a cobertura permanente do solo e a rotação de culturas, que é o cultivo de diferentes espécies vegetais, com propósito de cobertura de solo e adubação verde e produção comercial de grãos/pastagens, etc, no decorrer do tempo, em uma mesma área agrícola.
Este sistema conservacionista é indicado na agricultura devido à otimização do uso da terra, com melhoria e manutenção da qualidade e da capacidade produtiva do solo, melhoria da qualidade, armazenamento e aproveitamento da água, redução dos riscos gerando rendimentos mais favoráveis e estáveis ao longo dos anos, de forma a mitigar os efeitos das adversidades e irregularidades climáticas.
Pelo que pude notar, o experimento foi feito há alguns anos, sem ocorrência de volumes de chuva como aconteceu agora no RS. Seria possível dizer que o manejo adequado pode proteger o solo em eventos climáticos extremos, como estiagens ou grandes volumes de chuva?
Há necessidade de se manejar adequadamente o solo, através de sistemas de produção alicerçados em uma agricultura conservacionista e mais sustentável, tanto para a proteção do solo quanto para a recuperação, melhoria e manutenção da capacidade produtiva de solos degradados. Técnicas conservacionistas complementares ao Sistema Plantio Direto como semeadura em contorno, cultivo em faixa, canal vegetado, terraçeamento, entre outras, também devem ser levadas em consideração e adotadas de acordo com as necessidades de cada área, pois a simplificação do Sistema Plantio Direto ou o uso isolado de uma ou outra prática de cultivo pode não ter o mesmo efeito que um conjunto de práticas tem de potencializar a proteção do solo em casos de eventos climáticos extremos, os quais têm previsão de ocorrer com maior frequência e intensidade.
São necessárias ações de manejo, que tornem os solos mais estruturados e permeáveis, de forma a maximizar a infiltração e o armazenamento de água no solo, tornando-a mais disponível às plantas em situações de estiagem, além de absorver uma maior quantidade de água em situações de elevadas e intensas precipitações. A água que deixa de ser perdida da lavoura vai alimentar os lençóis freáticos e os mananciais hídricos, de forma a minimizar os processos erosivos e os efeitos do assoreamento dos rios e das enchentes, resultando em menor impacto para os recursos naturais, para o processo produtivo e para a sociedade.
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