SUCESSÃO FAMILIAR
Cadeia leiteira: o que é preciso para que os jovens permaneçam na propriedade rural?
Relação familiar e busca por conhecimento aliado à tecnologia são apontados como caminhos para que a atividade leiteira gaúcha não perca mais produtores ao longo dos anos
Última atualização: 24/09/2024 14:39
A bovinocultura de leite precisa se tornar uma atividade atrativa para não perder mais produtores rurais. Entidades ligadas ao setor, como cooperativas e representantes da classe produtiva, reconhecem que a manutenção e a prosperidade da atividade leiteira gaúcha dependem tanto da valorização dos jovens na propriedade, quanto de estímulos da própria família. Aproximar a gestão da propriedade rural da tecnologia é outro ponto observado como determinante.
Hoje são pouco mais 33 mil produtores de leite no Rio Grande do Sul ligados à indústria, segundo o último Relatório Socioeconômico da Cadeia Produtiva do Leite, elaborado pela Emater em 2023 – documento que é lançado a cada dois anos. O próximo levantamento será no ano que vem, quando o relatório completa dez anos.
Em 2015, o Estado concentrava 84.199 produtores de leite. A redução desses números tem entre as razões a dificuldade de sucessão familiar. Escassez de mão de obra e preço pago pelo litro do produto também aparecem como desestímulo à continuidade na lida com o gado leiteiro.
Por outro lado, enquanto a curva de produtores baixou, o nível de produtividade aumentou ao longo dos anos, segundo os dados da Emater. Isto quer dizer que nas propriedades onde se manteve a atividade leiteira houve também transformação do trabalho.
O incremento tecnológico teve papel fundamental neste processo. A visão sobre o trabalho também. Quem não se adaptou e ainda sentiu o conflito de gerações, provavelmente, ou não foi adiante ou pretende ficar pelo caminho.
Apesar das oscilações de mercado que castigam o produtor de leite, se vislumbra um horizonte de possibilidades. Mas nesse contexto, também é inegável que a propriedade rural necessita de gestão, a exemplo do que ocorre em outras organizações e empresas.
Além disso, o domínio do conhecimento sobre o trabalho da atividade leiteira é entendido como base para a prosperidade da produção. Mas nada disso será viável se a relação familiar não estiver aberta às transformações que o momento exige.
Sucessão familiar é tema permanente de debate nas regionais da Fetag
"Sentimos que a sucessão dentro desta cadeia produtiva específica, realmente, tem fortes impactos para a continuidade", afirma a primeira-secretária e coordenadora de Juventude e Educação no Campo da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag), Camila Rode, ao afirmar também que 95% da produção leiteira do Estado é proveniente da agricultura familiar. "Vemos a importância desta atividade não só para as famílias produtoras, mas para o consumidor, para os mercados e para soberania alimentar", enumera.
Camila ressalta que a sucessão vem sendo discutida constantemente dentro da Juventude Rural, dentro das 23 regionais da Fetag, mas considera que fora do âmbito dos jovens o tema é pouco abordado. A representante da Fetag defende que outros segmentos também devam pensar na sucessão familiar rural. "O que a gente não percebe é a discussão de forma mais intensa em outros grupos, seja de aposentados, seja de mulheres, não só no movimento sindical mas na sociedade como um todo. Ocorre que a sucessão acontece geralmente de uma forma mais abrupta", analisa.
A valorização dos jovens é outro ponto defendido por Camila. "O jovem precisa ter renda dentro da propriedade. Não pode ser apenas uma mão de obra barata. Precisa ter seu empoderamento econômico, sua participação dentro do que é feito na propriedade." A visão da coordenadora de Juventude e Educação no Campo da Fetag sobre o papel dos jovens também vai ao encontro de outras entidades que representam setores produtivos da agropecuária.
Incremento tecnológico faz parte do presente e corresponde à rentabilidade
A tecnologia impacta todos os setores produtivos, e no ramo leiteiro não é diferente. Em termos de acesso à tecnologia, a distância entre zona rural e urbana é bem mais estreita. Foi-se o tempo em que os produtores rurais lutavam por acesso à energia elétrica. Agora, banda larga é um imperativo básico para levar adiante o setor primário.
A adaptação de lidar com ferramentas tecnológicas, desde aplicativos de gestão e monitoramento de rebanho a ordenhadeiras robotizadas, está nas mãos da geração atual.
O secretário-executivo do Sindicato da Indústria de Laticínio do Rio Grande do Sul (Sindilat), Darlan Palharini, reconhece que as propriedades onde há sucessão familiar se destacam pelos investimentos voltados à tecnologia. "Normalmente as propriedades que se destacam na questão de novas tecnologias têm jovens que estão assumindo o gerenciamento", afirma.
A prova de que a transformação tecnológica dá resultados está nos números da produção de leite que chega até as indústrias. Palharini observa o patamar de produtividade leiteira no Estado. Os dados da Emater apontam o crescimento da produção mesmo diante da queda do número de produtores.
Para ter como exemplo, o relatório da Emater, de 2023, aponta que em 2015, a produtividade era de 11,76 litros/vaca/dia; em 2021, 15,37 litros/vaca/dia; em 2023, passou para 16,34 litros/vaca/dia. Isto coloca o Rio Grande do Sul como terceiro maior produtor de leite do Brasil, segundo dados do Anuário do Leite 2024, elaborado pela Embrapa.
"Embora haja diminuição do número de produtores, não tem diminuição da produção de leite. Quer dizer que aqueles que estão ficando na atividade ou fazendo seus investimentos também têm como visão de médio e longo prazo o ganho em escala. Essas propriedades que continuam na atividade têm esse norte de que precisam aumentar sua produtividade, precisam investir em novas tecnologias para que realmente consigam se manter na atividade e ter lucratividade também", avalia Palharini.
Conhecimento e participação dos jovens dão resultados
Durante a 47ª Expointer, o Prêmio Referência Leiteira – entregue pelo Sindilat, em parceria com Emater/RS-Ascar e Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Sepai) – reconheceu propriedades que se destacam na produção leiteira.
Algumas dessas eram de sucessão rural, no entanto, o que todas tinham em comum, segundo frisou o coordenador do Prêmio e assistente técnico estadual da Emater/RS-Ascar, Jaime Eduardo Ries, era o interesse pelo conhecimento.
"O que os une é o conhecimento, e não a tecnologia necessariamente. Porque tem produtores de diferentes portes, de diferentes níveis de investimento, mas quem investe em conhecimento e consegue fazer um processo de gestão qualificada se destaca", afirmou Ries na ocasião.
O técnico da Emater também destacou que entre as propriedades que apresentam os melhores resultados estão aquelas que têm a participação dos jovens. "E isso é fundamental para que a família invista e tenha uma perspectiva de continuidade", disse.
"A Emater é uma empresa que trabalha com educação não formal no campo. Nosso papel é educativo de levar as informações, fazer as adequações que sejam pertinentes das tecnologias às propriedades", explica. Ries também acrescentou que o acesso às políticas de fomento é fundamental para quem precisa investir para ficar na atividade. "Principalmente para aquelas que precisam aumentar a escala de produção ou que precisam de equipamento."
É preciso ponderar os problemas e enxergar novas possibilidades
Presidente da Associação dos Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando), Marcos Tang reconhece que a sucessão familiar é um dos temas mais discutidos atualmente. Tang analisa que atividade leiteira tem problemas que podem não satisfazer os produtores, mas também tem oportunidades de desenvolvimento que estão ao alcance dos mais jovens.
Para que o interesse de seguir na atividade seja despertado na geração sucessora, é preciso que o gestor atual abra o caminho. Tang enumera algumas possíveis soluções para problemas que ele considera como empecilhos na sucessão.
Primeiro, a dificuldade de gestão da propriedade familiar é um dos pontos que precisam ser alinhados para que os sucessores tenham participação justa dentro das decisões, considera Tang. Neste sentido, remuneração e escala de trabalho são fundamentais para manter os jovens na atividade.
"A capacidade de fazer escala em família, às vezes, é muito difícil", reconhece. Tang explica que a organização, que permita folgas e distribuição justa do trabalho, evita o desinteresse por parte dos jovens. Este seria um segundo ponto a ser levado em consideração.
"Se não fizer isso, dá muita confusão, porque o filho 'mais trabalhador' vai assumir sempre, e o 'mais passeador' não vai assumir. No fim das contas, com o tempo, um por relaxamento e outro por desânimo, ninguém vai fazer a sucessão. Temos problemas sérios nessa área", afirma.
O terceiro ponto observado é que o incentivo à continuidade afasta o risco de abandono da produção de leite por falta de espaço. Tang cita como exemplo hipotético uma partilha de terra de 20 hectares que tenha de ser dividida entre quatro filhos. "Se apenas um optar por seguir na produção leiteira, ou enfrentará dificuldades com o pouco espaço ou terá de indenizar os demais irmãos. É um preço que não tem como absorver", assinala, ao lembrar que há regiões no Estado, como a Serra, onde as terras estão muito valorizadas, o que acaba sendo motivo para inviabilizar a continuidade.
Possibilidades de atualização de mão de obra são maiores hoje
Incentivar o conhecimento e formar a mão de obra, segundo Tang, é um caminho a ser seguido, e que nem sempre carece de formação superior. Hoje, diferentemente da época dos pais e avós, existem mais fontes de conhecimento e possibilidades de tornar o trabalho no campo menos árduo e mais rentável. Esta possibilidade está nas mãos dos jovens.
"Tem mais possibilidades no mundo globalizado, com acesso à tecnologia, ao conhecimento. Tudo isso leva a atalhos: a trabalhar melhor e com mais eficiência", pontua. "Geralmente, os melhores conhecimentos vêm de trocas de experiência com outros, de estágios e aprendizados", completa, ao mencionar eventos como a Expointer, que mesmo fora da programação principal, proporciona encontros entre produtores que trocam experiências que enriquecem o manejo do gado leiteiro.
Outro ponto a favor dos jovens produtores de leite na atualidade, segundo Tang, é que assuntos pertinentes como a remuneração pelo leite, por exemplo, são discutidos mais abertamente. "Existem mais grupos formados, há debate e reivindicações de classe, as pessoas se ajudam hoje em dia. O jovem tem isso mais facilitado do que os mais velhos que estão saindo da atividade. Naquela época não tínhamos. Ele tem ferramentas boas na mãos que permitem um trabalho com mais gestão, conhecimento e tecnologia", afirma.
Para o presidente da Ocergs, a sucessão precisa ser planejada
A sucessão familiar na produção leiteira também é um tema de constante debate entre as cooperativas. Para o presidente do Sistema Ocergs, Darci Pedro Hartmann, o maior desafio acerca da sucessão é a busca por um projeto econômico viável e o diálogo entre pais e filhos para que a continuidade seja planejada. "Entendo que muitas vezes a não utilização da tecnologia pelos pais e a não discussão sobre sucessão com os filhos pode fazer com os jovens não fiquem na atividade", considera.
"O problema é que não se pode conceber a atividade leiteira como há dez anos. Muitos produtores não pensaram na continuidade. Não investiram em tecnologia. Dez anos atrás era tudo manual, era muito trabalhoso. Existem condições para facilitar ainda mais a atividade, o que pode atrair o jovem a permanecer", continua Hartmann.
O presidente da Ocergs, que também é vice-presidente da CCGL (Cooperativa Central Gaúcha Ltda.), aposta que através de gestão e investimentos que modernizem a produção leiteira nas propriedades é possível alcançar resultados econômicos que favoreçam a permanência no campo.
"Com a crise nas commodities, a atividade leiteira se mostra como a mais rentável por hectare. É é a melhor atividade, mas é preciso buscar recursos, alternativas como gestão profissional e o incremento de tecnologia", calcula.
No entanto, o produtor leiteiro nem sempre dispõe de recursos próprios para incorporar novas tecnologias que possam fomentar o desenvolvimento. Hartmann lembra que a pecuária de leite carece de políticas para financiamento mais barato, por exemplo, ou incentivos específicos no processo de automação, como inserção de ordenhadeiras robotizadas.
"Hoje em dia nossa briga é para que os produtores de leite sejam reenquadrados no critério da agricultura familiar e não pelo faturamento da atividade. Porque se o produtor de leite familiar extrapola o teto do faturamento, acaba sendo penalizado."
Investimento em ensino é a chave para revelar uma carreira atrativa no setor
Organizações, públicas ou privadas, têm assumido o papel de fornecer apoio aos produtores rurais. Exemplo do Alto Jaucí, o projeto realizado pela Cotribá foi o desafio assumido pelo supervisor de Negócios e Varejo da cooperativa, Felipe Nicolodi. A bovinocultura de leite como opção de carreira para os jovens divide espaço com as indústrias e a cultura da soja na região. Para incentivar o setor leiteiro, há dois anos, a Cotribá lançou a Academia Jovens Produtores de Leite. "Sempre com pensamento técnico, para que o produtor consiga se capacitar para tomar as próprias decisões", resume.
Vinte jovens produtores de Quinze de Novembro - muitos em processo de sucessão familiar - fazem parte de uma das turmas. Outros 26 participam em Ibirubá. A metodologia proporciona aulas teóricas em sala de aula e práticas, diretamente em propriedades.
Nicolodi confia que a chave da permanência dos jovens na bovinocultura leiteria seja o conhecimento. "Esse é um dos principais objetivos da Academia, que é fazer sucessão, apoiar o produtor, incentivar a ficar na atividade, levar novas tecnologias para que eles possam implantar nas propriedades e ter melhor qualidade de vida, produção e rentabilidade."
Nicolodi considera que a baixa remuneração e a falta de incentivo dos próprios pais para a continuidade sãos os motivos que afastam os jovens do setor. Mas ele acredita que qualificando a mão de obra e mostrando a possibilidade de incremento com tecnologia e gestão, a bovinocultura leiteira volte a ser vista como uma possibilidade de carreira no meio rural. "Se a gente tiver uma qualidade de vida, acesso a informações, com certeza a atividade do leite vai ter continuidade", aposta.
Planejamento e assertividade colocam os jovens no comando
Exemplos de sucessão familiar na atividade leiteira demonstram na prática os elementos destacados por especialistas e conhecedoras da área. É notável que a relação familiar se sobressai como pilar da organização do trabalho. O conhecimento e a visão de futuro também são outros aspectos notáveis.
Em Coqueiros do Sul, no Noroeste do Estado, o exemplo da família Zambiasi mostra uma trajetória de quem ingressou na atividade leiteira para ficar. Larissa Zambiasi tem 26 anos e trabalha lado a lado com o pai, a mãe e as irmãs na propriedade. O trabalho no ramo leiteiro começou há 30 anos, com o pai dela, Dilamar Antônio Zambiasi, 57 anos.
A jovem se tornou referência em sucessão familiar a partir de um projeto de mestrado em que analisou a permanência dos jovens na atividade rural. Larissa chama de Plano de Continuidade Familiar. "Trabalhamos vários aspectos, como pensar o empreendimento familiar rural como uma empresa, o que ela realmente é", destaca Larissa, que também ressalta a convivência familiar como o fator mais determinante para a permanência nos jovens na propriedade.
Larissa obteve o título de mestre em Desenvolvimento Rural pela Universidade de Cruz Alta (Unicruz), em 2021, com a pesquisa intitulada A Gestão e a Sucessão Familiar na Atividade Leiteira. "No mestrado, estudei sucessão familiar e descobri que o fator que mais contribui para a permanência do jovem do meio rural é a convivência familiar.
A partir dessa descoberta, e junto de bastante estudo teórico, desenvolvemos um Plano de Continuidade Familiar. É como se fosse uma metodologia, mas não é um modelo que se possa aplicar em todas as propriedades. São alguns pontos que podem facilitar o processo de continuidade familiar", explica Larissa.
Na propriedade, as tomadas de decisões são compartilhadas. O trabalho de gestão de números, ordenha, limpeza, controle de qualidade ficam sob o comando de Larissa e Dilamar. A irmã Daniele Zambiasi, veterinária, se responsabiliza pelos cuidados de saúde dos animais.
A mãe Marelin e mais um colaborador completam o suporte nas atividades. A propriedade possui 170 animais, sendo 72 vacas em lactação, que convivem em 50 hectares, com criação a pasto. "Produzimos uma média de 35 litros por vaca a cada dia", ressalta.
"Ao longo desses 30 anos, a gente vem trabalhando no sistema de produção de leite a pasto com suplementação. Intensificamos a produção a partir de 2017, que, coincidentemente, foi quando começou o processo de sucessão familiar. Foi um momento que passamos a investir não só na produção, mas também na melhoria das estruturas dos manejos, alteramos nosso sistema de pastejo", afirma.
Neste período, a família participou de projetos que contribuíram para que eles mudassem a mentalidade sobre o sistema de produção. As mudanças foram ocorrendo ao longo dos anos, afirma Larissa. "Como é uma propriedade onde predominam as mulheres, a gente sempre trabalhou no sentido de facilitar nosso dia a dia, nosso trabalho, teve muitas mudanças ao longo do tempo no sentido de execução das tarefas", pontua.
A propriedade é atendida pela Cotrisal, cooperativa da região, através de suporte veterinário e nutrição animal. Além disso, há suporte do Senar-RS e da Emater. Larissa cita também programas do Sebrae, como o Juntos para Competir, que auxiliou na mudança do sistema de pastejo na propriedade. "Temos um planejamento estratégico para os próximos cinco anos. E as capacitações estão sempre presentes. E nós, as filhas, somos estudantes e sempre estamos trazendo novidades para a propriedade", acrescenta Larissa.
Visão profissional cria metas para crescimento futuro
Com uma trajetória diferente a das irmãs Zambiasi, o produtor rural Marcos Roesler, 30 anos, primeiro ingressou como sucessor e agora trabalha em busca de planejamento. "Informação na nossa atividade nunca é demais", define Roesler, 30 anos, que tomou a frente na propriedade leiteira quando o pai passou por um problema de saúde.
Ali se iniciou a sucessão familiar. Nos primeiros anos, Roesler estudava à noite e trabalhava durante o dia até se formar no curso técnico em Agropecuária. Hoje, o curso da cooperativa Cotribá é uma nova oportunidade de ampliar e atualizar o conhecimento.
É a partir da experiência na Academia Jovens Produtores de Leite que Roesler consegue vislumbrar o futuro. "Temos que ser mais profissionais, porque nossa margem de lucro é pequena e qualquer detalhe que nos escape pode nos fazer perder muito dinheiro ao longo do processo", analisa o produtor rural.
Quando assumiu a propriedade, havia 35 vacas em produção. Depois que se formou no curso técnico, aos 18 anos, o plantel foi ampliado para 50 animais. Hoje são 105. "Vi que o leite era a produção mais lucrativa tendo em vista que vivemos numa pequena propriedade rural, se comparar com preços pagos pelos grãos", analisa.
A partir do suporte que vem recendo, o produtor começa a planejar os próximos anos. Roesler diz que uma das metas é incorporar o sistema free stall. "Daqui a dez anos, quem sabe, implantar uma ordenhadeira robotizada", projeta Roesler, cuja produção é fornecida para indústrias.
Tradição familiar de Nova Petrópolis transformou-se em marca própria
Em Nove Colônias, interior de Nova Petrópolis, a sucessão familiar tem transformado a atividade leiteira há quase cem anos. Hoje a produção comandada por Marcos Seefeld, 34 anos, ao lado da esposa Daiane Kaiser, comercializa uma variedade de queijos especiais e doce de leite direto ao consumidor por meio da agroindústria.
O excedente de leite produzido na propriedade vai para a cooperativa Piá. O trabalho começado ali é um exemplo do que se transforma através do conhecimento e das oportunidades que cada geração carrega.
A propriedade começou com o bisavô, apenas com produção leiteira. Foi o avô que introduziu a fabricação de queijo. O pai morreu aos 28 anos, quando Seefeld ainda era criança. O legado da queijaria passou de avô para neto. Iniciava-se ali uma tradição familiar que viria a consolidar mais tarde. A partir de 2019, a atividade ingressou no Sistema de Inspeção Municipal (SIM), alçando novo patamar da produção da Queijaria Tradição. Seefeld inspirou-se na própria história da família para dar nome ao empreendimento, alçando novo patamar dos negócios e ao mesmo tempo em que ratifica sua permanência na atividade.
São 25 vacas em lactação, com uma produção média de 750 litros por dia, sendo 60% para a agroindústria e 40% para a indústria. Ao lado do avô, Seefeld começou ainda criança. Mas foi aos 17 anos, depois de se formar no técnico em Agropecuária que ele passou a trabalhar efetivamente na propriedade. Ele agregou conhecimento ao que já sabia fazer desde pequeno.
Para Seefeld, a relação com a família foi o fator determinante para que se mantivesse na atividade. Ao longo das gerações, o trabalho passou a ser menos artesanal e mais organizado como empresa. "Legalizar a queijaria foi uma tomada de decisão pensando num crescimento a longo prazo", reflete.
Apesar de a produção de queijo ser mais rentável, o vínculo da indústria representa uma segurança. "O laticínio tem um papel importante porque em momento de queda de venda, como a pandemia e as enchentes, nos permitia escoar a produção sem nos criar problema com excesso de produção de leite."