RECOMEÇO
Agricultores da região semeiam esperança após ano de chuvas
Pelo menos 20% do total de produtores do Rio Grande do Sul sofreram prejuízos
Última atualização: 26/12/2023 18:39
Ao caminhar pelos campos com falhas na plantação, o olhar dos agricultores é um misto de tristeza com a esperança de quem perde e semeia novamente. Com sua fonte de renda a céu-aberto, o produtor rural é dependente do clima, que este ano, castigou com as cheias e todas as consequências do excesso de chuva.
Segundo o relatório que abrange os eventos climáticos ocorridos entre 16 e 24 de novembro, elaborado pela Emater/RS-Ascar, 198 municípios apontaram perdas no setor agropecuário, equivalente a quase 40% das cidades do Estado. O número de propriedades afetadas é de 72.318, simbolizando 20% do total de produtores.
Não foi diferente com o produtor rural de Santa Maria do Herval, Fábio Wobeto, de 44 anos. Ele mostra os rabanetes que apodreceram na sua propriedade em Padre Eterno Ilges, devido às chuvas. "Tentamos diversificar nossa plantação, mas às vezes tudo dá errado, dá até vontade de chorar, perdemos 40 mil reais em rabanetes. Tu acaba trabalhando só para pagar as contas. Eu não posso descarregar o que sinto, pois isso desanima os filhos, a mulher. Precisa ter equilíbrio e quanto mais tu desanimar, pior fica", disse ele, com um rabanete estragado entre as mãos sujas de terra.
Muito além dos alagamentos
Quando alguém imagina os prejuízos da chuva excessiva, as enchentes são as imagens mais recorrentes. Porém, os agricultores mostram que a questão é muito mais ampla. Na mesma propriedade, a mulher de Fábio, Marlise Wobeto e seu filho Alan Felipe Wobeto colhem morangos na estufa destruída pelos fortes ventos dos temporais. Nas mãos, eles mostram com tristeza o estrago da alta umidade: morangos recém-colhidos e mofados.
Fábio explica que após três anos de seca, o ano de chuvas intensas foi pior para os produtores rurais. Algumas das consequências são a erosão da terra boa para plantio, que gera uma necessidade de um novo tratamento do solo. A umidade provoca doenças nas plantas e fungos, como os morangos. Além disso, os temporais e granizo causaram danos nas estradas e estruturas, como ilustra a estufa da família Wobeto, sendo apenas um caso de 6.307 agricultores que tiveram problemas nas instalações, entre os dias 16 e 24 de novembro.
"Com o aumento de umidade, do calor, vem as doenças fúngicas. Por isso, o produtor tem que ter um monitoramento maior das lavouras. Em dois dias, tu podes perder uma lavoura inteira de tomate por doença, por exemplo", acrescenta Charles Rech.
Expectativas para o futuro
O secretário de Agricultura de Santa Maria do Herval, Jaime André Morschel, destaca que os resultados de todas essas perdas serão mais visíveis em 2024. "Como Secretaria, terceirizamos vários tratores para conseguir agilizar nos poucos dias que tínhamos para fazer o plantio. Conseguimos concluir o plantio, mas tivemos perdas irreversíveis. Temos mais de 600 famílias ativas no meio rural, quase 1.500 inscrições de produtores, o setor primário é muito forte, mas sofreu muito com a chuva", conclui ele.
Enchentes e estragos exigiram replantio de culturas
Conforme o secretário de Agricultura, Jair Rodrigues da Silva, os danos relativos às enchentes em Rolante foram severos, com atrasos significativos e alguns produtores necessitando replantar suas culturas até três vezes. As regiões mais baixas, sujeitas a alagamentos, foram duramente atingidas, especialmente as plantações de milho e pastagens. A produção de uva sofreu perdas entre 30% a 50% devido às chuvas durante a floração.
A ocorrência de duas grandes cheias, sendo algumas localidades com até cinco enchentes, causou danos irreparáveis em várias áreas, com avanço do rio e deposição de pedras e cascalhos. A economia local enfrenta uma perspectiva delicada para o próximo ano, e a colheita de melancia em Rolante parece incerta, segundo o assessor técnico da Secretaria de Agricultura, Lenoir Lauri Schonardie.
O coordenador da Secretaria de Agricultura, Marcelo André Stein, explica que Rolante possui cerca de 2.300 produtores cadastrados. A diversidade agrícola do município inclui cultivos como milho, feijão, mandioca, uva, frutas e hortaliças, sendo o milho o foco principal da patrulha agrícola. O auxílio concede um ano de incentivo gratuito aos produtores, e abrange desde o preparo do solo até a colheita, utilizando o maquinário necessário, o que serve de apoio nessa situação delicada.
Agroturismo como alternativa
Em meio aos parreirais de sua propriedade em Rolante, Leandro Roberto Sbardelotto, sócio-proprietário e agricultor da vinícola Sbardelotto, mostra as uvas caindo apenas ao encostar nelas, devido a uma doença que se instaurou em consequência das chuvas intensas. "Tivemos muitas perdas na época da floração, com uma queda de 40% de toda a produção, em torno de 40 mil de prejuízo, a uva-branca foi a mais afetada. Por não ter luz do sol e não conseguir florescer, mesmo com todo o tratamento, não conseguimos salvar. É uma safra por ano, então, não temos como replantar", relata ele.
O agroturismo surge como uma fonte alternativa de renda para os produtores rurais, além de uma maneira da população apoiar os agricultores nesse período difícil. Pois, apesar de terem sofrido perdas na produtividade, a beleza dos espaços rurais mantém o potencial de encantar qualquer pessoa.
Localizada no Caminho das Pipas, a vinícola Sbardelotto, assim como diversas outras da região, apostam na força do turismo. "O nosso forte é a uva e o enoturismo, diversificamos nossa renda fazendo uma cabana para hospedagem aqui. Também criamos espaços de lazer, servimos tabua de frios, vinhos, sucos, espumantes", disse Leandro.
Suporte do Governo do Estado para os agricultores
O governo do Estado lançou dois programas para auxiliar os produtores rurais afetados por eventos climáticos adversos em 2023. O Programa de Recuperação da Fertilidade do Solo, na sua primeira fase, destinará R$ 10 milhões a 22 municípios atingidos pelo ciclone extratropical de junho. A segunda fase disponibilizará R$ 15 milhões e concentrará em municípios do Vale do Taquari, Serra e Norte, afetados por chuvas intensas e alagamentos.
Paralelamente, o Programa Reconstrói no Campo, dividido em duas etapas, disponibilizará até R$ 44 milhões em operações. Na primeira fase, 62 municípios atingidos pelos ciclones de junho e julho terão acesso a financiamentos com juros zero, beneficiando agricultores. O Reconstrói no Campo II irá facilitar o acesso ao crédito do Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp) para médios produtores rurais em situação de emergência, subsidiando parte dos juros e permitindo financiamentos de até R$ 48 mil.
Agricultores mais afetados*
6.307 agricultores com problemas nas instalações
19.711 agricultores afetados do setor de grãos
2.923 agricultores afetados nas olerícolas
9.165 agricultores afetados na produção de fumo
5.932 agricultores afetados nas pastagens
3.698 agricultores afetados atividade pecuária
*Segundo o relatório que abrange os eventos climáticos ocorridos entre 16 e 24 de novembro, elaborado pela Emater/RS-Ascar
Ao caminhar pelos campos com falhas na plantação, o olhar dos agricultores é um misto de tristeza com a esperança de quem perde e semeia novamente. Com sua fonte de renda a céu-aberto, o produtor rural é dependente do clima, que este ano, castigou com as cheias e todas as consequências do excesso de chuva.
Segundo o relatório que abrange os eventos climáticos ocorridos entre 16 e 24 de novembro, elaborado pela Emater/RS-Ascar, 198 municípios apontaram perdas no setor agropecuário, equivalente a quase 40% das cidades do Estado. O número de propriedades afetadas é de 72.318, simbolizando 20% do total de produtores.
Não foi diferente com o produtor rural de Santa Maria do Herval, Fábio Wobeto, de 44 anos. Ele mostra os rabanetes que apodreceram na sua propriedade em Padre Eterno Ilges, devido às chuvas. "Tentamos diversificar nossa plantação, mas às vezes tudo dá errado, dá até vontade de chorar, perdemos 40 mil reais em rabanetes. Tu acaba trabalhando só para pagar as contas. Eu não posso descarregar o que sinto, pois isso desanima os filhos, a mulher. Precisa ter equilíbrio e quanto mais tu desanimar, pior fica", disse ele, com um rabanete estragado entre as mãos sujas de terra.
Muito além dos alagamentos
Quando alguém imagina os prejuízos da chuva excessiva, as enchentes são as imagens mais recorrentes. Porém, os agricultores mostram que a questão é muito mais ampla. Na mesma propriedade, a mulher de Fábio, Marlise Wobeto e seu filho Alan Felipe Wobeto colhem morangos na estufa destruída pelos fortes ventos dos temporais. Nas mãos, eles mostram com tristeza o estrago da alta umidade: morangos recém-colhidos e mofados.
Fábio explica que após três anos de seca, o ano de chuvas intensas foi pior para os produtores rurais. Algumas das consequências são a erosão da terra boa para plantio, que gera uma necessidade de um novo tratamento do solo. A umidade provoca doenças nas plantas e fungos, como os morangos. Além disso, os temporais e granizo causaram danos nas estradas e estruturas, como ilustra a estufa da família Wobeto, sendo apenas um caso de 6.307 agricultores que tiveram problemas nas instalações, entre os dias 16 e 24 de novembro.
"Com o aumento de umidade, do calor, vem as doenças fúngicas. Por isso, o produtor tem que ter um monitoramento maior das lavouras. Em dois dias, tu podes perder uma lavoura inteira de tomate por doença, por exemplo", acrescenta Charles Rech.
Expectativas para o futuro
O secretário de Agricultura de Santa Maria do Herval, Jaime André Morschel, destaca que os resultados de todas essas perdas serão mais visíveis em 2024. "Como Secretaria, terceirizamos vários tratores para conseguir agilizar nos poucos dias que tínhamos para fazer o plantio. Conseguimos concluir o plantio, mas tivemos perdas irreversíveis. Temos mais de 600 famílias ativas no meio rural, quase 1.500 inscrições de produtores, o setor primário é muito forte, mas sofreu muito com a chuva", conclui ele.
Enchentes e estragos exigiram replantio de culturas
Conforme o secretário de Agricultura, Jair Rodrigues da Silva, os danos relativos às enchentes em Rolante foram severos, com atrasos significativos e alguns produtores necessitando replantar suas culturas até três vezes. As regiões mais baixas, sujeitas a alagamentos, foram duramente atingidas, especialmente as plantações de milho e pastagens. A produção de uva sofreu perdas entre 30% a 50% devido às chuvas durante a floração.
A ocorrência de duas grandes cheias, sendo algumas localidades com até cinco enchentes, causou danos irreparáveis em várias áreas, com avanço do rio e deposição de pedras e cascalhos. A economia local enfrenta uma perspectiva delicada para o próximo ano, e a colheita de melancia em Rolante parece incerta, segundo o assessor técnico da Secretaria de Agricultura, Lenoir Lauri Schonardie.
O coordenador da Secretaria de Agricultura, Marcelo André Stein, explica que Rolante possui cerca de 2.300 produtores cadastrados. A diversidade agrícola do município inclui cultivos como milho, feijão, mandioca, uva, frutas e hortaliças, sendo o milho o foco principal da patrulha agrícola. O auxílio concede um ano de incentivo gratuito aos produtores, e abrange desde o preparo do solo até a colheita, utilizando o maquinário necessário, o que serve de apoio nessa situação delicada.
Agroturismo como alternativa
Em meio aos parreirais de sua propriedade em Rolante, Leandro Roberto Sbardelotto, sócio-proprietário e agricultor da vinícola Sbardelotto, mostra as uvas caindo apenas ao encostar nelas, devido a uma doença que se instaurou em consequência das chuvas intensas. "Tivemos muitas perdas na época da floração, com uma queda de 40% de toda a produção, em torno de 40 mil de prejuízo, a uva-branca foi a mais afetada. Por não ter luz do sol e não conseguir florescer, mesmo com todo o tratamento, não conseguimos salvar. É uma safra por ano, então, não temos como replantar", relata ele.
O agroturismo surge como uma fonte alternativa de renda para os produtores rurais, além de uma maneira da população apoiar os agricultores nesse período difícil. Pois, apesar de terem sofrido perdas na produtividade, a beleza dos espaços rurais mantém o potencial de encantar qualquer pessoa.
Localizada no Caminho das Pipas, a vinícola Sbardelotto, assim como diversas outras da região, apostam na força do turismo. "O nosso forte é a uva e o enoturismo, diversificamos nossa renda fazendo uma cabana para hospedagem aqui. Também criamos espaços de lazer, servimos tabua de frios, vinhos, sucos, espumantes", disse Leandro.
Suporte do Governo do Estado para os agricultores
O governo do Estado lançou dois programas para auxiliar os produtores rurais afetados por eventos climáticos adversos em 2023. O Programa de Recuperação da Fertilidade do Solo, na sua primeira fase, destinará R$ 10 milhões a 22 municípios atingidos pelo ciclone extratropical de junho. A segunda fase disponibilizará R$ 15 milhões e concentrará em municípios do Vale do Taquari, Serra e Norte, afetados por chuvas intensas e alagamentos.
Paralelamente, o Programa Reconstrói no Campo, dividido em duas etapas, disponibilizará até R$ 44 milhões em operações. Na primeira fase, 62 municípios atingidos pelos ciclones de junho e julho terão acesso a financiamentos com juros zero, beneficiando agricultores. O Reconstrói no Campo II irá facilitar o acesso ao crédito do Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp) para médios produtores rurais em situação de emergência, subsidiando parte dos juros e permitindo financiamentos de até R$ 48 mil.
Agricultores mais afetados*
6.307 agricultores com problemas nas instalações
19.711 agricultores afetados do setor de grãos
2.923 agricultores afetados nas olerícolas
9.165 agricultores afetados na produção de fumo
5.932 agricultores afetados nas pastagens
3.698 agricultores afetados atividade pecuária
*Segundo o relatório que abrange os eventos climáticos ocorridos entre 16 e 24 de novembro, elaborado pela Emater/RS-Ascar