Imagine que o Garoto Bombril passasse a ter uma série sobre si. Ou Sebastian, da C&A, nos mostrasse, em episódios, mais sobre sua personalidade, sua vida. Não os bastidores publicitários da coisa, mas uma narrativa ficcional mesmo. Ted Lasso vai por aí.
Isso porque a história do personagem que ganhou repercussão, emmys e muitos admiradores, começou em 2013 com uma proposta publicitária para divulgar os direitos de exibição da Premier League na NBC. Foi a primeira vez que Ted Lasso apareceu para o público.
A receita de comunicação foi cativante e eficiente: protagonizada por um treinador de futebol (o americano) universitário de Kansas City vai pra Londres treinar um time da Premier League. Ele não conhece direito as regras, nem a importância cultural do esporte, mas tem o desejo de vencer. A campanha mostrava, com sátira, dois mundos diferentes pela ótica do americano, e assim fez a NBC cativar os fãs experientes de futebol e atrair um novo público. Mas os anos passaram e, pra nossa sorte, a personagem de Jason Sudeikis ganhou sua narrativa.
Em agosto de 2020 a série Ted Lasso foi lançada pela Apple TV+ sem grandes repercussões. Mas parece que uns ou outros começaram a ver, e perceberam que ela era mais que uma série sobre futebol. E realmente é.
Algum tempo depois, cravou o sucesso levando sete das 20 indicações ao Emmys a que concorreu. Tinha prêmio de melhor série de comédia, melhor ator, ator coadjuvante, atriz coadjuvante, e tantos outros que vieram depois.
Foi ali que eu soube da existência da série e resolvi dar o play. E o cotidiano simples, humano e nem sempre leve foi o que me segurou atônita na frente da tela. Foram três temporadas, e sem confirmação de uma próxima. Além disso, sempre que posso digo: veja Ted Lasso, é uma das melhores séries dos últimos tempos.
A premissa é essa: um técnico norte-americano de futebol que é chamado pra treinar um grande time em Londres e, ao chegar lá, se depara com um “outro futebol”. Quem o contratou foi uma empresária recém divorciada que herdou o time do pai. O ex-marido amava o time. A medida dela vem em tom de vingança. Tudo com muita piada e humor de qualidade, claro. Mas a série não fica só nisso, e se ficasse já seria ótimo.
As personagens vão se complexificando, assim como as relações na narrativa. O humor continua presente, sempre, e vai se tornando denso ao levar a sério os temas tratados. Quando nos damos conta, estamos debatendo relações familiares, a dureza da cultura do futebol, as lógicas de masculinidades, o poder das boas amizades e saúde mental.
Tem romance, tem graça, tem imagens incríveis, roteiros inovadores, distribuição impecável. Qual série de exibição corrente lança um episódio natalino em agosto? Ou, qual série faz um episódio inteirinho sobre um personagem coadjuvante? Isso é inovar, mexer com algumas estruturas e arriscar. Absolutamente. Em relação ao que ela desperta no espectador, pra mim, teve risada e choro na mesma intensidade.
Além de ser uma série incrível, a estratégia de convergir uma personagem que deu certo na publicidade para uma densa no streaming, coroou a potência de um bom planejamento estratégico. Quem o fez, soube aproveitar o tamanho de um vídeo viral e torná-lo ainda maior.
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